Agência France-Presse
postado em 07/06/2011 16:03
MANÁGUA - Uma "marcha das vadias" para protestar contra a discriminação e a violência contra as mulheres, muitas vezes criminalizadas no lugar de seus agressores, foi convocada para este sábado na cidade de Matagalpa, norte da Nicarágua.O movimento (slutwalk) começou em abril em Toronto, Canadá, depois que algumas mulheres foram vítimas de estupros e o chefe de polícia afirmou que elas deveriam "parar de se vestirem como putas para não serem vítimas" de violência. No dia 4 de junho, cerca de 300 manifestantes com cartazes, bom humor e pouca roupa haviam desfilado pelas ruas de São Paulo para protestar contra preconceitos machistas.
A chamada dirige-se a todas as mulheres que romperam o preconceito, as que trabalham fora de casa, as divorciadas, as que têm filhos sem saber quem é o pai, e todas as outras que sofrem ou sofreram algum tipo de violência, afirma Geni Gómez da Rede de Mulheres de Matagalpa.
Com o nome da marcha realizada, "devolvemos" uma palavra usada nos insultos, para desqualificar as mulheres. "Vadia, é uma palavra forte, agressiva, mas que temos que usar para mobilizar as pessoas, para que tenham consciência disso e reflitam" sobre o que está acontecendo, acrescentou Gómez. "Talvez nem todas se atrevam a marchar, mas esperamos que muitas considerem a marcha atraente e provocante", afirma Gómez que através da Rede de Mulheres mantém uma continua denuncia da violência contra a mulher.
O movimento, que ganha força em vários países, combate a ideia de que as mulheres sejam culpadas pela própria violência sofrida, e isso "tambiem ocorre aqui (no Nicarágua) as agressões são justificadas pela maneira com que se vestem, como saem às ruas, pelo jeito de andar e de falar", lamentou.
As formas de agressão à mulher vão desde o extremo como um assassinato até a piadas de conteúdo machista; no dia a dia, o desprezo pelas mulheres ocorre de muitas maneiras: no trabalho, no estudo e enquanto dirigem. O homem que mata uma mulher assume que tem o direito sobre a vida dela e se justifica dizendo que "foi deixado".
A Rede de Mulheres registrou até maio deste ano o assassinato de 40 mulheres por namorados, maridos, noivos ou até vizinhos e familiares.
Matagalpa, uma cidade conservadora localizada no norte do país, lidera a lista de assassinatos de mulheres junto de Managua e a Região Autônoma do Atlântico Sul. A maioria dos casos fica na impunidade. "Não aceitamos que nos clasifiquem ou nos rotulem (...) Nós, mulheres, temos o direito de exigir que nos respeitem, que respeitem a nossa palavra, o nosso corpo e quando dizemos não é não", disse Gómez, uma espanhola nacionalizada nicaraguense.
A marcha contra a violência cometida contra as mulheres é uma das iniciativas que se espalharam pelo mundo através das redes sociais. Começou no Canadá e já passou, além do Brasil, pela Holanda, Inglaterra, Argentina entre outros países. O México fará a sua no domingo, dia 12.