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Muamar Kadafi descarta a renúncia e fala em suicídio

Em meio ao mais violento bombardeio da Otan sobre Trípoli, ditador líbio conclama o povo à resistência, descarta a renúncia e fala em suicídio. Para opositor, a vitória está próxima

postado em 08/06/2011 08:19
O gesto foi compatível com a personalidade excêntrica de um ditador que se mantém no poder há 42 anos. Enquanto mais de 60 bombas caíam sobre Trípoli ; na maior ofensiva aérea da Organização do Tratado do Atlântico Norfte (Otan) contra o regime líbio ;, Muamar Kadafi mostrava estar longe de abandonar o tom desafiador. ;Nós só temos uma escolha: permanecer em nossa terra mortos ou vivos;, afirmou o mandatário, por meio de uma mensagem de áudio divulgada pela emissora de tevê estatal.

Pela primeira vez, Kadafi citou a possibilidade de suicídio, um sinal de reconhecimento de sua fragilidade no governo. ;Nós não nos ajoelharemos! Não nos renderemos! (;) Ainda que sejamos martirizados, assassinados ou cometamos suicídio, nós nos importamos com o nosso dever para com a história;, disse. O discurso de Kadafi e a blitz da Otan ocorreram horas após Barack Obama avisar que a pressão sobre ele se intensificaria. ;Kadafi deve se render e deixar o poder para os líbios; a pressão vai aumentar até que ele saia;, afirmou o presidente norte-americano, segundo o qual existe uma ;tendência inexorável; para o fim do regime.

;Estou perto dos bombardeios, mas sigo resistindo;, acrescentou ontem Kadafi, ao conclamar a população a mobilizar uma resistência diante de seu complexo residencial, no bairro de Bab Al-Aziziya. Durante todo o dia, mais de 10 mil sobrevoos foram realizados pelos aviões da aliança ocidental. ;A Otan realizou um ataque rancoroso sobre Trípoli;, desabafou Musa Ibrahim, porta-voz do regime líbio. Ele garantiu que 32 pessoas morreram nas operações cujos alvos principais foram a residência de Kadafi, o subúrbio de Tajura (leste) e a estrada em direção ao aeroporto, ao sul da capital. ;Continuamos pressionando o regime, limitando a capacidade de Kadafi de dar ordens por meio dos centros de comando;, explicou à agência France-Presse o porta-voz da Otan, Mike Bracken, que anunciou o ;considerável enfraquecimento; do governo.

Por telefone, o líbio Guma El-Gamaty ; um dos coordenadores do Conselho Nacional de Transição (CNT) ; admitiu ao Correio que a vitória da oposição se aproxima. ;A situação de Kadafi nunca esteve tão ruim. Ele não tem escolha a não ser fugir para outro país da África;, comentou. Para Guma, o ditador está isolado no poder e nunca dorme em um mesmo local, uma estratégia para evitar ser morto em um bombardeio. ;Ele se esconde em hotéis e em bunkers;, disse. Ao mesmo tempo, os rebeldes do CNT receberam ontem em Benghazi (leste) a visita de Mikhail Marguelov, enviado russo que tentará ;facilitar o diálogo;. ;Acreditamos que Kadafi perdeu a legitimidade quando disparou a primeira bala contra um inocente;, afirmou. Em sinal de fraqueza de Kadafi, o ministro do Trabalho Al-Amin Manfur desertou ontem, durante visita a Genebra, e anunciou seu apoio aos rebeldes.

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