Para demonstrar que a Al-Qaeda ainda respira depois da morte de seu fundador, Osama bin Laden, o ;número dois; da rede terrorista, o egípcio Ayman Al-Zawahiri, apareceu ontem em um vídeo para afirmar que sua jihad (;guerra santa;) contra o Ocidente continua. Apontado como provável sucessor de Bin Laden, Al-Zawahiri reiterou a convocação aos muçulmanos de todo o mundo para uma ;rebelião; e ameaçou: ;O homem que aterrorizou os Estados Unidos em vida continuará atemorizando (os EUA) após sua morte;.
O vídeo de 28 minutos, divulgado ontem em alguns fóruns sobre a jihad, foi a primeira aparição de Al-Zawahiri desde a madrugada de 2 de maio, quando um comando de elite norte-americano invadiu a fortaleza onde o líder terrorista vivia, em Abbottabad, no norte do Afeganistão. O egípcio aparece com túnica e turbante branco e fala com entusiasmo sobre a luta contra o Ocidente. ;Seguiremos adiante com a jihad até que expulsemos os invasores das terras muçulmanas. Os EUA não enfrentam um indivíduo ou um grupo, mas o levante de um povo, que abandonou sua letargia com o despertar da guerra santa;, afirmo. Embora a Al-Qaeda não tenha ainda apresentado um novo líder, Al-Zawahiri seria o sucessor mais natural. Ele é classificado, em relatórios de inteligência, como um dos dirigentes mais radicais da rede.
Al-Zawahiri ressalta, em sua mensagem, o legado do fundador da rede terrorista e a influência que continuará exercendo mesmo depois do ;martírio;. ;O xeque Osama Bin Laden será sempre uma fonte de medo e de terror para os EUA, Israel e seus aliados e agentes corruptos. Eles jamais estarão em segurança enquanto vivermos, se não saírem da nossa terra;, ameaçou. O egípcio também celebrou e garantiu apoio às revoltas populares na Tunísia, no Egito, na Líbia, na Síria e no Iêmen, e convocou os jovens que se levantam contra os antigos regimes a ;lutar o mesmo combate; da rede terrorista.
Antes mesmo da morte de Bin Laden, a Al-Qaeda apresentava sinais de enfraquecimento e divisão nos últimos anos. As articulações com grupos extremistas começaram a se desfazer e a organização perdeu popularidade nos países muçulmanos. Por isso, o ;número dois; do grupo precisa demonstrar força no momento de transição, apontam os analistas. ;O papel de Al-Zawahiri na liderança é instável. A pressão constante pode fazer Al-Qaeda balançar e levá-la ao colapso;, avalia o especialista Daniel L. Byman, do Brookings Institute. ;Esta é uma oportunidade para as forçad de contraterrorismo dos EUA.;
Esconderijo
O egípcio, que poderia estar escondido no Paquistão, assim como Bin Laden, também enviou um recado à população paquistanesa. ;Rebelem-se contra os militares mercenários e políticos subornados que transformaram o país em uma colônia americana, onde eles matam as pessoas que quiserem;, disse, em referência à ação contra o líder da Al-Qaeda. Um ex-chefe da agência de Inter-Serviços de Inteligência (ISI) do Paquistão declarou que o xeque saudita não deve ter permanecido em Abbottabad por cinco anos, como foi divulgado anteriormente. ;Seria totalmente atípico o grupo manter sua liderança na mesma posição por tanto tempo;, disse o general Ehsan Ul-Haq à agência Reuters. Os EUA recomeçaram as operações conjuntas de espionagem com o governo paquistanês para procurar terroristas na semana passada, depois da crise causada pela ação que causou a morte do líder terrorista.
Drones atacam no Paquistão
Um ataque com aviões teleguiados (drones) dos Estados Unidos matou ontem pelo menos 20 pessoas do lado paquistanês da fronteira com o Afeganistão, uma das áreas com forte presença de extremistas islâmicos talibãs e da rede
Al-Qaeda. ;Os drones americanos dispararam cinco mísseis contra um campo de treinamento de insurgentes e mataram 20 deles;, disse à agência de notícias France-Presse uma fonte do governo paquistanês. Mais tarde, meios locais afirmaram que haveria mais três vítimas do bombardeio, o quarto realizado nesta semana por aviões não tripulados operados pela Agência Central de Inteligência (CIA). Segundo as autoridades paquistanesas, o alvo foi atingido em Zoynarai, uma localidade na área tribal do Waziristão do Norte. Os drones, usados com frequência nos últimos anos contra os extremistas na fronteira afegã, são motivo de frequentes atritos entre os EUA e o governo paquistanês, muitas vezes constrangido a protestar contra o aliado quando, por engano, os mísseis causam a morte de civis.