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Reino Unido e França apresentam projeto que condena o presidente da Síria

Reino Unido e França apresentam projeto de resolução na ONU no qual condenam o presidente Bashar Al-Assad pela repressão. Texto não menciona uso da força. Promessa de vingança motiva êxodo para a Turquia

postado em 09/06/2011 08:15
Refugiados sírios aguardam para atravessar a fronteira com a Turquia: sobreviventes do horror
Apenas 2 mil dos 75 mil moradores permanecem na cidade de Jisr Al-Shughur (veja mapa). A maioria fugiu para outras regiões da Síria. Uma parte preferiu percorrer 12km e atravessar a fronteira com a Turquia. Quem ficou sabe que corre o risco de ser exterminado nas próximas horas. O sírio Omar Al-Hamoui (nome fictício) nasceu em Hama, a 80km dali, e hoje vive na Alemanha, de onde coordena a página Hama Network, do site de relacionamentos Facebook. Ontem, ele entrou em contato com moradores do noroeste da Síria e soube de notícias perturbadoras. ;Um longo comboio moveu-se das 6h às 8h, dentro de minha cidade natal. Eram centenas de tanques, que tomaram uma estrada interna, porque a principal rodovia foi cortada pelos rebeldes na altura do vilarejo de Khan Shechun;, relatou Omar ao Correio, pela internet. As autoridades sírias acusaram ;grupos armados; de executar 120 policiais em Jisr Al-Shughur e alertaram sobre uma retaliação iminente. A operação estaria a cargo de Maher Assad, irmão do presidente Bashar Al-Assad, e envolveria milhares de soldados da elite do Exército. Para Omar, a mais recente manobra do Ocidente contra Al-Assad provavelmente não evitará mais uma carnificina.

A estratégia partiu da França e do Reino Unido, foi vista por analistas como um ato simbólico e já tem o repúdio da China e da Rússia. Um projeto de resolução apresentado no Conselho de Segurança da ONU pelos franceses e pelos britânicos ;condena a repressão (exercida pelo regime de Al-Assad) e demanda responsabilização e ação humanitária;. No entanto, o texto não faz menção ao uso da força ; ao contrário do que ocorreu com a Líbia (leia matéria abaixo). Os Estados Unidos mostraram-se a favor da medida e afirmaram que ela pode intensificar a pressão sobre Damasco. Contrários aos bombardeios da coalizão internacional na Líbia, a Índia, o Brasil e a África do Sul devem votar contra a resolução. O Líbano provavelmente seguirá o grupo, motivado pela amizade.

Para a blogueira política síria Camille Otakji, o tratamento diferenciado da resolução para o ditador Muamar Kadafi e o presidente Al-Assad vai além das razões militares. ;O Exército líbio tem 12 mil homens e está dividido. A força síria soma pelo menos 500 mil pessoas. Damasco também possui milhares de mísseis e foguetes, e os oficiais das Forças Armadas são escolhidos a dedo por sua lealdade ao chefe de Estado;, explica à reportagem.

Camille lembra que, enquanto a Líbia está cercada pelo deserto, a Síria mantém fortes laços políticos, religiosos, comerciais e históricos com os vizinhos. Segundo ela, a crise no país pode afetar o Líbano, o Iraque e a Turquia. ;Eu ficaria muito surpresa se eles planejassem atacar a Síria. Isso seria algo além da loucura. O que o Ocidente deseja é enfraquecer o regime de Al-Assad;, aposta. Exilada no Canadá, Camille defende que os opositores interrompam os protestos por alguns meses e deem uma chance ao presidente para realizar as reformas prometidas e se engajar no diálogo nacional.

Talvez ciente do risco de instabilidade regional, o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, avisou que não pretende se opor à entrada de refugiados sírios. ;Nesse momento, está fora de questão para nós fechar as portas;, assegurou, de acordo com a agência de notícias turca Anatolia. ;Os incidentes na Síria são muito tristes, estamos acompanhando-os com preocupação. (;) Desejamos que a Síria seja mais tolerante com os civis e implemente as reformas de um modo mais convincente;, acrescentou o primeiro-ministro. Por sua vez, Ahmet Davutoglu, chanceler da Turquia, rejeita a ideia de uma intervenção armada no vizinho. ;A Síria não é qualquer país;, justificou, em entrevista ao jornal turco Today;s Zaman. ;Ao contrário do Egito e da Tunísia, ela não tem uma população homogênea. Todos deveriam oferecer contribuições positivas em relação à Síria;, emendou.

Pelo menos 420 sírios já atravessaram a fronteira e 30 deram entrada em hospitais das cidades de Hatay e Antakya, no sudeste da Turquia. Alguns deles contaram histórias de horror à agência France-Presse. ;A última coisa que me lembro é que um franco-atirador atirou em mim: uma bala entrou pela clavícula e saiu pelo meu peito esquerdo. Quanto eu tentava avisar meus amigos, outra bala atravessou a minha mão. E perdi a consciência;, relatou Selim, de 28 anos, morador de Jisr Al-Shughur que se recupera no hospital de Antakya. ;No sábado, enterramos os mortos. As forças de segurança começaram então a atirar do alto do prédio dos Correios, para todos os lados;, disse Mohammed, que não quis ser identificado.

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