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Opositor cubano Guillermo Fariñas suspende greve de fome de uma semana

Agência France-Presse
postado em 11/06/2011 10:01
HAVANA - O opositor cubano Guillermo Fariñas, prêmio Sakharov 2010, suspendeu na noite de sexta-feira a greve de fome que realizava há uma semana em protesto contra a morte de um dissidente, para evitar que ex-presos políticos se unissem à ação, informou à AFP.

"Desisti do protesto porque fui submetido a uma chantagem, no bom sentido da palavra, por parte de muitos ex-presos políticos que estão muito mal de saúde e que me comunicaram que iam entrar em greve de fome", afirmou o dissidente por telefone em sua casa em Santa Clara, leste de Havana.

Fariñas começou em 3 de junho sua greve para exigir um julgamento contra os responsáveis pela morte do dissidente Juan Wilfredo Soto em um hospital de Santa Clara, em 8 de maio, três dias depois de ter sido detido nesta cidade e, segundo a oposição, ter sido espancado pela polícia

O psicólogo e jornalista de 49 anos disse ter sido visitado na tarde de sexta-feira pelos ex-presos Librado Linares e José Daniel Ferrer, e por outros opositores, que comunicaram a decisão de também fazer greve.

"Eles me disseram que não iam me deixar morrer. Todos eles têm problemas de saúde e me vi na necessidade de ceder a esta pressão. Posso arcar com minha morte, mas não com a de outras pessoas", afirmou o opositor.

Farinãs completou na sexta-feira uma semana de greve de fome, com sua saúde visivelmente deteriorada, segundo médicos oficiais. Mas ele se negava a ser hospitalizado para que não o acusassem de usar o sistema de saúde gratuito.

"Sinto-me fraco, muito cansado, tenho sonolência, mas enquanto estiver consciente não aceito ser hospitalizado, por conta do que foi publicado sobre minha pessoa no blog governista de Yohandry (www.yuhandry.com)", chegou a declarar Fariñas à AFP.

Ele explicou sua posição a uma equipe de sete médicos que o visitou na quinta-feira em sua casa, que lhe advertiu sobre a necessidade de receber cuidados hospitalares, o que foi confirmado por sua mãe, a enfermeira Alicia Hernández.

Yohandry publicou na quarta-feira uma mensagem na qual afirma que o "arsenal médico investido" para "manter Fariñas com vida" não poderia ser pago pelo opositor nem com os "50.000 euros" que ele ganhou com seu Prêmio Sakharov nem o "Parlamento Europeu" que o concedeu, mas um sistema de saúde que tem que "aturar" seus "caprichos".

Com seu protesto, Fariñas pretendia "causar o maior custo político ao governo" e "marcar pontos para o prêmio gordo, o de 1 milhão de dólares, o Nobel da Paz", completou.

A greve de fome anterior realizada por Fariñas - que diz ter feito mais de 20 greves de fome nos últimos 15 anos - durou 135 dias de 2010 e teve como objetivo exigir a libertação de presos políticos.

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