Agência France-Presse
postado em 11/06/2011 13:08
TOQUIO - O Japão recordou neste sábado os três meses da catástrofe de 11 de março com um minuto de silêncio em memória dos 23.500 mortos causados pelo terremoto seguido de tsunami no nordeste do país, onde também foram realizadas manifestações antinucleares.Os sobreviventes das cidades e povoados arrasados no litoral de Tohoku (nordeste) fizeram um minuto de silêncio às 14H46 (02H46 de Brasília), hora exata em que ocorreu o tremor de magnitude 9 no fundo do Oceano Pacífico que provocou o maremoto gigante.
Na catástrofe morreram 23.500 pessoas, mas destes 8.000 corpos não foram encontrados. Mais de 90.000 sobreviventes perderam suas casas e ainda moram em abrigos.
O primeiro-ministro japonês Naoto Kan, de 64 anos, acusado de ter administrado mal a catástrofe e cujos dias no cargo estão contados, viajou ao porto de Kamaishi (nordeste) para conversar sobre a reconstrução da região.
O tsunami também danificou gravemente a central nuclear Fukushima Daiichi (N;1), cujos reatores continuam espalhando partículas radioativas.
Milhares de manifestantes desfilaram neste sábado em Tóquio e em outras cidades do arquipélago para reclamar o fechamento das usinas nucleares.
Os habitantes dos arredores de Fukushima estão desesperados porque os reatores que sofreram danos com o tsunami continuam contaminando o ar e a terra num raio de dezenas de quilômetros, tornando impossível um regresso à normalidade nos próximos anos.
"Nós conseguimos escapar, mas continuamos vivendo com o temor das radiações", afirmou Tomi Shiga, de 59 anos, que foi obrigada a se tirar para um perímetro de segurança de 20 km ao redor da central de Fukushima N; 1 e está alojada num abrigo superlotado da prefeitura.
A operadora da central, a Tokyo Electric Power (TEPCO), espera poder esfriar os reatores até janeiro, uma etapa crucial no caminho de uma estabilização da crise nuclear mais grave desde a catástrofe de Chernobyl, em 1986.
Depois serão necessários muitos anos para desmantelar a instalação e descontaminar a região.
Vários agricultores que tiveram de abandonar suas plantações e seus animais acabaram se suicidando.
Mais ao norte, idosos cujas casas foram varridas pelo tsunami também optaram pelo suicídio para não continuar vivendo na solidão e na promiscuidade dos centros que abrigam cerca de 91.000 pessoas.
Outros se negaram a abandonar suas casas, apesar dos perigos, e vivem sem gás ou eletricidade graças a refeições distribuídas pelas autoridades.
As gerações mais jovens não ocultam sua indignação em relação ao governo, acusado de lentidão na limpeza de 25 milhões de toneladas de lixo.
"Somos nós que limpamos todos os dias e, com o calor, o cheiro dos peixes podres, é algo insuportável", explica Toru Suzuki, de 41 anos, empregado do mercado de pescados de Otsushi, na prefeitura de Iwate.
A pesca, uma das principais atividades na região, não foi retomada, pois as embarcações foram destruídas pelo tsunami. Os pescadores também estão preocupados com os restos radioativos no mar.
O custo desta catástrofe, a mais grave ocorrida no Japão desde a Segunda Guerra Mundial, foi calculado em 250 bilhões de euros (aproximadamente 362,5 bilhões de dólares).
No entanto, apesar da enorme tarefa que o país deve realizar, a única coisa que foi retomada foi a batalha entre os caudilhos políticos para derrubar Naoto Kan, muito impopular.
Isso só aumenta a revolta dos refugiados.
"Estamos muito decepcionados com os políticos que brigam pelo poder sem consideração alguma por nós", lamentou Shiga, uma das muitas vítimas da situação.