Agência France-Presse
postado em 12/06/2011 11:30
ANKARA - Várias pessoas ficaram feridas, entre elas dois policiais, e cerca de 50 foram presas durante incidentes vinculados às eleições legislativas que são realizadas neste domingo na Turquia, informou a agência de notícias Anatolia.O principal incidente aconteceu em Ancara, quando um grupo atacou violentamente os simpatizantes do partido governamental islamita moderado AKP, acusando-os de fraude nos colégios eleitorais, segundo a fonte.
Cinco pessoas foram agredidas e a polícia teve de disparar para o ar para dispersar a multidão.
Quatorze pessoas foram detidas neste incidente.
A polícia também prendeu 34 pessoas em Batman, província do sudeste do país povoada majoritariamente por curdos. Essas pessoas estariam exercendo pressão sobre os eleitores para que votassem a favor de candidatos independentes apresentados por uma formação pró-curda.
O partido islâmico moderado do primeiro-ministro turco Recep Tayip Erdogan espera conseguir seu terceiro mandato consecutivo nas eleições legislativas deste domingo, apesar de um avanço do principal partido da oposição pró-laico.
Segundo todas as pesquisas de intenção de voto, a vitória do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), no poder desde 2002, não deixa dúvidas.
Neste contexto, o principal suspense do pleito, no qual serão renovadas as 550 cadeiras do Parlamento unicameral, é saber se o AKP obterá cadeiras suficientes para fazer aprovar uma Constituição mais liberal, que substitua a redigida depois do golpe militar de 1980.
Erdogan busca dar continuidade às emendas à Constituição, modificada várias vezes, a última em 2010.
O primeiro-ministro afirma querer aprofundar a democratização da Turquia, candidata à União Europeia, através da instauração de um regime presidencial. Mas uma parte da opinião pública teme que, com estas mudanças, o país caia no autoritarismo "ao estilo Putin", em referência ao primeiro-ministro russo Vladimir Putin.
Para este domingo estão previstos três cenários.
Se o AKP conseguir eleger 367 deputados, isto é, maioria de dois terços, poderá mudar a Constituição sem recorrer a um referendo. Com pelo menos 330 cadeiras, o partido no poder precisará de organizar uma consulta popular. Já com menos de 330 deputados necessitará da ajuda de outros partidos ou, então, deverá abandonar seu projeto.
As pesquisas dão vitória ao AKP com 45% dos votos; algumas, com até 50%. O partido de Erdogan somou 47% dos votos nas legislativas de 2007.
Mas o principal partido da oposição pró-laico, o Partido Republicano do Povo (CHP) dirigido por Kemal Kiliçdaroglu, soma 30% das intenções de voto (em 2007 alcançou 21%). Os observadores explicam esta posição pelo carisma de seu líder, conhecido pela luta contra a corrupção.
A campanha eleitoral esteve marcada por escândalos sexuais. Vários dirigentes do Partido da Ação Nacionalista (MHP) foram obrigados a renunciar depois da difusão, na internet, de vídeos nos quais se via estes homens, todos casados, em situações comprometedoras.
Esta formação ficará, provavelmente, na terceira posição, na lista de 15 partidos em disputa e deverá arrecadar mais de 10% dos votos em escala nacional.
Trinta candidatos se apresentam como independentes, mas apoiados pelo principal partido curdo, o Partido para a Paz e a Democracia (BDP), e deverão continuar representados na Assembleia, onde têm, hoje, 20 cadeiras.
Nas últimas semanas, Erdogan fez fortes críticas a seus adversários, não poupando comentários sobre suas vidas privadas, atacando, também, jornalistas e empresários conhecidos como opositores.
Para Sedat Ergin, do jornal Hürriyet, o AKP conseguiu apropriar-se de todas as instituições no decorrer dos anos e Erdogan parece ter caído numa tentação de hegemonia.
"Sem compaixão com os críticos, (Erdogan) consolida um estilo cada vez mais autoritário (...) e com as detenções de jornalistas da oposição, acusados de complô contra o Estado, um clima de censura se instalou no país", estima.
A popularidade do primeiro-ministro deve-se, amplamente, ao êxito econômico do país: em 2010, a Turquia registrou o terceiro melhor crescimento do G20 (8,9%).
Além do sucesso econômico, o novo governo deverá enfrentar o conflito curdo, que deixou 45.000 mortos desde o começo da rebelião, em 1984.