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Edward C. Luck fala sobre os desafios e as conquistas da ONU

postado em 13/06/2011 07:55

Em fevereiro de 2008, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, nomeou o norte-americano Edward C. Luck conselheiro especial no nível de subsecretário-geral. Ex-professor de assuntos públicos e internacionais da Columbia University, ele desempenhou um papel-chave no processo de reforma da ONU, como consultor do Departamento de Administração e Gerenciamento das Nações Unidas e como conselheiro do presidente da Assembleia-Geral, Razali Ismail. Em entrevista ao Correio, por e-mail, Luck falou sobre os desafios e as conquistas da ONU.

Com 66 anos de existência, as Nações Unidas mantêm uma estrutura arcaica ou foram capazes de se remodelar com o tempo?
Se a ONU fosse uma pessoa, teria atingido a época da aposentadoria. Mas ela não pode se aposentar. Em primeiro lugar, seus serviços têm mais demandas do que nunca. Em segundo, não há uma próxima organização universal a tomar seu lugar. Em terceiro, a ONU está fazendo um trabalho duro. Sob o ponto de vista estrutural, seus principais órgãos não têm mudado radicalmente desde 1945. Mas as ferramentas que ela emprega, o contexto legal e organizacional no qual trabalha e as agendas que persegue têm mudado. Meu senso é de que, por um lado, a ONU tem provado ser altamente adaptável e resiliente. Por outro lado, revela-se altamente resistente a uma reforma fundamental. Essa dualidade certamente caracterizou a evolução do Conselho de Segurança. Tal combinação permitiu que a ONU sobrevivesse à Guerra Fria e a todos os altos e baixos desde então. A ONU é como um caleidoscópio: fascinante e difícil de se manter em foco por causa de todas as peças em movimento ao mesmo tempo.

Quais as principais demandas e dificuldades da ONU?
A ONU tem fraquezas e virtudes. A universalidade pode lhe dar um certo tipo de legitimidade, mas também torna difícil fazer escolhas e estabelecer prioridades de um modo coerente. Sua amplitude é impressionante, mas isso significa que ela é tão profunda quanto rasa. A ONU tem reconhecido a necessidade de parcerias ; com a sociedade civil, corpos regionais, arranjos funcionais e até mesmo o setor privado ;, mas é difícil estabelecer quem merece crédito. A busca constante pelo consenso é louvável, mas, como resultado, a coragem pode ser um raro commodity no cenário internacional. O mesmo vale para o pensamento independente. Apesar disso, estou convencido de que as contribuições da ONU para o desenvolvimento dos valores humanos e normas e para o modo como pensamos sobre o mundo e seus problemas têm sido de significado maior do que jamais poderíamos apreciar.

Como o senhor avalia a gestão de Ban Ki-moon?
O mandato de cada secretário-geral é moldado pela natureza dos tempos. Por essa medida, eu acredito que Ban Ki-moon tem se provado um secretário-geral muito mais forte do que a maioria dos analistas esperava. Seu comprometimento e sua integridade têm sido impressionantes. Ele tem travado uma boa luta na questão das mudanças climáticas, ainda que o mundo não esteja pronto para se mover tão rapidamente quanto ele desejava. Ban Ki-moon provou ser um forte campeão dos direitos humanos e da responsabilidade de proteger. Às vezes, ele tem sido bastante franco. Mas isso é algo que devemos esperar de todo secretário-geral: que seja a voz dos menos poderosos e da consciência do mundo. A trajetória é promissora. (RC)

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