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Pelo menos 10 mil sírios atravessam as fronteiras com a Turquia e o Líbano

Tropas do presidente Bashar Al-Assad retomam cidade e espalham o horror no noroeste do país

postado em 14/06/2011 10:43

Refugiados sírios em um dos três acampamentos, próximo à cidade turca de Boynuegin: Crescente Vermelho prepara um quarto campo para 5 mil pessoas.
;Os soldados sírios foram até uma casa e mataram uma família inteira, inclusive uma criança de quatro anos;, afirma ao Correio, com a voz carregada de indignação e horror, a professora de inglês Huda, de 35 anos. ;Os militares amarraram moradores do lado de fora de alguns carros e os empurraram pelas ruas de Jisr Al-Shughur;, acrescenta. São 22h30 (16h em Brasília) e chove no campo de refugiados situado perto da cidade turca de Yaldir, a 60km da fronteira com a Síria. Há cerca de 10 dias, ela e o marido deixaram um vilarejo perto de Jisr Al-Shughur (noroeste) rumo a uma vida de incertezas e de dificuldades. ;Todos estamos com medo. Somos 5 mil refugiados aqui no acampamento e só existem cinco banheiros e cinco chuveiros;, relata.

Valerie Amos, encarregada das operações humanitárias na Organização das Nações Unidas (ONU), expressou ontem o incômodo com a situação dos refugiados. ;Estou profundamente preocupada com a violência dos últimos meses na Síria, que teria matado 1,2 mil pessoas e levado outras 10 mil a fugir;, disse à agência de notícias France-Presse. ;Faço um apelo ao governo (sírio) para que respeite os civis e se abstenha de empregar a força contra manifestantes pacíficos;, acrescentou. Ela revela que 5 mil sírios buscaram proteção na Turquia e outros 5 mil, no Líbano.

Enquanto conversa com a reportagem, Huda admite que a palavra ;retorno; está fora de questão. ;Só voltarei para minha vila após (o presidente) Bashar Al-Assad deixar o poder;, assegura. ;Não existe mais confiança entre o povo e o governo.; O Exército sírio tomou ontem o controle de Jisr Al-Shughur e, segundo a rede de tevê estatal, perseguia ontem ;elementos armados; nas montanhas a leste. A professora refugiada na Turquia admite que os 70 mil moradores abandonaram o local. ;Jisr Al-Shughur está vazia, é uma cidade-fantasma.;

Ouça o depoimento de Huda, professora síria refugiada na Turquia


Huda também soube de barbáries cometidas pelas forças de Al-Assad nos vilarejos da região noroeste do país. ;Os soldado executam qualquer pessoa e queimam as lavouras. Em Syrie, mataram os animais;, denuncia. Ela afirma que cinco militares não suportaram voltar-se contra a população e desertaram. ;Eles estão aqui entre nós;, comenta.

A sensação de que as tropas da Turquia protegerão os refugiados contribui com um êxodo em massa também para as vilas situadas ao longo da fronteira, ainda em território sírio. ;Meus pais e minha irmã estão num vilarejo próximo à Turquia. Acreditamos que os soldados turcos atacarão, se nosso povo for ameaçado ali;, explica Huda. Refugiados sírios contaram à agência France-Presse que os militares obedientes a Al-Assad mostram sinais de divisão. ;Quatro tanques começaram a disparar uns contra os outros;, comentou Abdullah, um sírio de 35 anos que também vivia em Jisr Al-Shughur e fugiu para o país vizinho, em busca de comida.

Como em toda a guerra, a propaganda é usada como arma. A tevê estatal exibiu imagens de corpos retirados de uma vala comum aberta no domingo, na mesma cidade. Os cadáveres, segundo a emissora, pertencem a agentes mortos durante o ataque ao quartel general de segurança, em 6 de junho. O regime de Al-Assad garante que 120 policiais morreram nas mãos de ;grupos armados;. No entanto, Huda diz ter escutado de moradores de Jisr Al-Shughur que os agentes foram executados após se recusarem a matar civis desarmados, do alto do prédio dos Correios. Os Estados Unidos reforçaram ontem o pedido a Al-Assad para que lidere uma transição pacífica ou abandone o poder.

Líbia

Numa mudança de posição surpreendente, a Alemanha reconheceu o opositor Conselho Nacional de Transição (CNT). ;O CNT é o único representante do povo;, declarou, em Benghazi (leste), o ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle. Em 17 de março, Berlim absteve-se de votar o uso da força na Líbia. ;Qualquer reconhecimento, por parte de qualquer país, nos ajudará a derrotar o ditador (Muamar Kadafi);, diz ao Correio, pela internet, um engenheiro líbio que vive em Ajdabyia. ;Precisamos que o Brasil faça o mesmo.;

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