postado em 16/06/2011 09:10
Os Estados Unidos insistem na solidez da aliança com o Paquistão. No entanto, um novo incidente ligado à operação que matou o terrorista Osama bin Laden, em 2 de maio passado, lançou mais desconfiança sobre uma relação já conturbada. Uma autoridade paquistanesa ligada ao setor de segurança declarou ao jornal The Washington Post que ;entre 35 e 40 pessoas foram presas em todo o país;, sob a suspeita de terem trabalhado como informantes para a CIA ; a principal agência de inteligência dos EUA. Entre os detidos pelo serviço secreto ISI, estão um major do Exército paquistanês que teria anotado as placas dos carros que estiveram no casarão usado como o refúgio de Bin Laden, em Abbottabad, a 60km de Islamabad. Quatro moradores também foram capturados pelo ISI, por terem emprestado sua casa à CIA, perto do esconderijo do líder da rede Al-Qaeda. Dali, os agentes monitoraram o extremista. Em nota oficial, o principal serviço secreto do Paquistão repudiou a denúncia. ;A história é falsa e sem fundamento;, afirmou o ISI.De acordo com o The New York Times, o paradeiro dos informantes presos é desconhecido. O jornal revela que o diretor da CIA, Leon E. Panetta, tratou desse tema com autoridades militares e do setor de inteligência. Ele, inclusive, teria dado uma nota 3, num total de 10, à cooperação do Paquistão com os EUA no combate ao terrorismo. Moradores de Abbottabad consultados pelo Correio desconhecem as detenções e até duvidam que Bin Laden tenha sido morto na cidade pelos Seals, os integrantes das forças especiais Seals (leia os depoimentos). O paquistanês Ahmed Tamjid Aijazi, jornalista do Hurriyat News (em Karachi), não acredita em mudanças drásticas no tratamento dispensado por Washington a Islamabad. ;A relação entre os dois governos tem se baseado sempre na desconfiança;, comenta. ;Nós e os norte-americanos claramente temos interesses distintos. Enquanto os EUA buscam se proteger do terrorismo, o Paquistão tenta preservar a integridade nacional e os cidadãos, tanto dos terroristas como de ações criminosas dos Estados Unidos;, acrescenta, por e-mail.
Para Ahmed Aijazi, um paquistanês que trabalhe para a CIA ou para qualquer agência de segurança estrangeira é passível de punição, por violar os interesses de seu país. ;Os EUA não permitem que qualquer agente da CIA seja contratado por uma agência russa. O mesmo vale nesse caso;, comenta. O francês Jean-Charles Brisard, advogado de familiares das vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001, tem opinião diferente e alerta que Islamabad só tem ;muito a perder; com tal ;atitude ilógica;. ;As prisões são uma tentativa do governo do Paquistão de mostrar que investiga denúncias sobre uma suposta proteção recebida por Bin Laden. ;Se ficar confirmado que o Paquistão deteve fontes da CIA, a já complicada relação com os EUA vai tensionar ainda mais;, aposta, em entrevista pela internet. ;Trata-se de outro exemplo de contradição do Paquistão em relação ao islã radical.;
;Nós temos uma relação forte com nossos homólogos paquistaneses, e trabalhamos nas dificuldades quando elas se apresentam;, garante Mark Toner, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano. Husain Haqqani, embaixador do Paquistão nos EUA, disse ao New York Times que a CIA e a ISI ;trabalham em conjunto na luta contra a ameaça do terrorismo;.
Bombardeios
Dois bombardeios de aviões teleguiados dos EUA mataram oito pessoas em áreas tribais do noroeste do Paquistã. O primeiro ataque ocorreu no Waziristão do Sul, na fronteira com o Afeganistão. Dois mísseis atingiram um carro perto da cidade de Wana, matando os quatro ocupantes. O segundo bombardeio destruiu outro automóvel, no Waziristão do Norte. Quatro supostos islamitas foram mortos.
Mergulhador vai buscar corpo
Ele pagará o equivalente a R$ 633 mil para encontrar o corpo de Osama bin Laden e obter a primeira evidência fotográfica de que o líder da rede Al-Qaeda está morto. O norte-americano Bill Warren, de 59 anos, alugará um navio na Índia e um submarino operado remotamente. ;Estou fazendo isso porque sou um patriota, que deseja saber a verdade;, afirmou ao jornal The New York Post. ;Eu faço isso pelo mundo.; Dono de uma empresa de mergulho especializada em salvamentos, na Califórnia, Warren espera começar a missão no próximo mês. Ele admite que sua tarefa será ;como procurar uma agulha em um palheiro;. O corpo de Bin Laden teria sido lançado ao Mar da Arábia, depois de um ritual fúnebre a bordo de um porta-aviões dos Estados Unidos, em 2 de maio.
Relatos desde Abbottabad
;Nosso país enfrenta uma série de problemas. Diariamente, várias pessoas morrem no Paquistão, vítimas de atentados suicidas. Em minha cidade, nós, moradores, não enfrentamos nenhuma ameaça. Vivemos em uma área próxima à base do exército, o que a torna bastante segura. Eu moro perto do local no qual Osama bin Laden foi morto. As pessoas daqui ainda não aceitam o fato de que Bin Laden estava aqui e a operação dos Estados Unidos para matá-lo também não foi bem vista. Eu fiquei sabendo por vocês da prisão de informantes da CIA.;
Syed Abbas Ali, 26 anos, comerciante
;A prisão dos informantes da CIA é um assunto estrito do serviço secreto ISI. A maior parte das pessoas em Abbottabad nada sabe sobre isso. Por aqui, não houve mudança na rotina. Os preços das casas sofreram uma redução. A principal razão para não ter havido mudança na rotina é que a maior parte das pessoas daqui acredita que a morte de Bin Laden é uma história fabricada. Se alguém fosse até o Brasil e fizesse algo assim, como você se sentiria? O sentimento é o mesmo aqui. Você já viu uma foto de Bin Laden? Ele morreu entre 2006 e 2008. Provavelmente, os filhos ou outros parentes dele estavam na casa, mas não Bin Laden. De qualquer forma, a relação entre EUA e Paquistão está deteriorando.;
Fahad Khan, 22 anos, estudante de medicina