Mundo

Silêncio de Chávez já chega a uma semana e dá o que falar na Venezuela

Agência France-Presse
postado em 20/06/2011 18:56
CARACAS - Uma semana sem fazer declarações, mais de 15 dias ausente do Twitter e com uma convalescência em Cuba sem data oficial de retorno: o inédito silêncio do presidente Hugo Chávez alimenta rumores na Venezuela, onde sua figura continua onipresente na vida política.

De uma doença mais grave do que o governo quer admitir até uma lipoaspiração, as especulações sobre a saúde do chefe de Estado abundam nas redes sociais, alimentadas pela falta de informação oficial sobre sua evolução.

Internado em Havana desde 10 de junho, quando foi operado de urgência de um abscesso pélvico, cuja origem e gravidade são desconhecidas, Chávez, de 56 anos, se recupera favoravelmente, "dá ordens" de Cuba e participa da tomada de decisões dos principais assuntos do país, segundo seus ministros.

No entanto, nem o agravamento da crise elétrica, nem a violência na prisão venezuelana de El Rodeo, onde se registraram pelo menos 25 mortos na última semana, provocaram uma reação do chefe de Estado, que acostumou seus cidadãos a uma participação ativa na vida política diária do país.

"É assombroso, opaco e misterioso. Confunde muito. Como venezuelano, apostaria os dois rins em que Chávez se pronunciaria sobre o ocorrido na prisão de El Rodeo", explicou à AFP o professor de Sociologia da Universidade Central da Venezuela, Ignacio Avalos.

O presidente saiu da Venezuela em 5 de junho para fazer um giro por Brasil, Equador e Cuba. Desde que se tornou pública a notícia de sua cirurgia, não tem havido boletins médicos emitidos de Havana, onde o silêncio é total e as informações sobre seu estado de saúde são fornecidas moderadamente pelas autoridades de governo na Venezuela.

"O presidente está em um processo de recuperação (...) Logo, Hugo Chávez estará aqui na Venezuela", disse nestes dias o vice-presidente Elías Jaua, homem leal ao chefe de Estado, que repudia de pronto a possibilidade de substituí-lo temporariamente.

O ministro da Informação venezuelano, Andrés Izarra, afirmou nesta segunda-feira que o presidente está "ainda em recuperação" em Havana, desmentindo declarações do deputado oficialista Saúl Ortega, que assegurou mais cedo que Chávez poderia voltar ao país nas "próximas horas".

Para Luis Vicente León, responsável do instituto de pesquisas Datanálisis, o sigilo que cerca a doença do chefe de Estado pode ser uma tentativa de preservar sua imagem de "homem invulnerável".

"Tentam mostrar que o problema é menor, que o pegou por acaso em Havana e que ele pode mandar de Cuba por um tempo (...) Este seria o caldo de cultura perfeito para um retorno triunfal. Mas Chávez deve reaparecer em breve porque senão, será perigoso para sua imagem", explicou à AFP.

Até o momento não se decretou a falta temporária do presidente, como contempla a Constituição, o que implicaria em que Jaua assuma as funções de Chávez por algum tempo.

No Parlamento, este governo à distância de Chávez gerou um acalorado debate no qual a oposição, minoritária na Câmara, exigiu mais transparência. "Neste momento, o invencível super-herói que vai se lançar em uma campanha para vencer uma eleição está doente. E este desaparecimento de sua invulnerabilidade poderia não ser boa para a campanha", acrescentou León, referindo-se às eleições presidenciais de 2012, nas quais Chávez, no poder desde 1999, aspira a um terceiro mandato de seis anos.

Segundo Avalos, às vésperas desta campanha eleitoral, este silêncio de Chávez "não favorece em nada o governo". "Os venezuelanos que têm esperanças no governo veem nestes dias que o chavismo sem Chávez parese impossível e isto cria uma grande intranquilidade porque se sente que não há ninguém capaz de substituí-lo", afirmou. "Mas está demonstrado que Chávez nunca dá ponto sem nó. É preciso esperar para ver o que há por trás de todo este mutismo", acrescentou.

Enquanto isso, na televisão oficial e na rede social Twitter, com o ;hash tag; "#palantecomandante", dezenas de partidários do governo fazem votos de um retorno rápido do presidente à Venezuela e o consideram uma peça imprescindível para o avanço da revolução bolivariana.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação