Mundo

Presidente sírio, Bashar Al-Assad, tenta contornar levante popular no país

Presidente Bashar Al-Assad perdoa quem cometeu crimes até anteontem. Forças de segurança matam quatro civis e governistas lotam as ruas das principais cidades para apoiar regime

postado em 22/06/2011 08:44

Multidão se concentra na Praça dos Omíadas, em Damasco, em protesto a favor de Al-Assad, após o anúncio de reformasQuem cometeu crimes antes de 20 de junho está perdoado pelo regime sírio. A concessão de anistia é vista como mais uma tentativa do presidente Bashar Al-Assad de contornar o levante popular que completa 100 dias amanhã. ;Senti que a anistia decretada (em 31 de maio) não foi satisfatória, vamos estendê-la para que inclua outros (presos), sem colocar em risco a segurança do Estado;, disse o mandatário, na segunda-feira. No mês passado, Al-Assad indultou os presos políticos e os integrantes da organização Irmandade Muçulmana. No entanto, manteve uma implacável repressão aos opositores, que já custou a vida de 1,3 mil pessoas e levou 10 mil à prisão.

Também numa clara estratégia de melhorar a imagem do governo, a agência estatal de notícias Sana anunciou que ;milhões de cidadãos sírios foram em massa para praças públicas, a fim de apoiar o programa de reformas compreensivo sob a liderança do presidente Bashar Al-Assad;. Em seu site, a Sana publicou fotos de imensas manifestações pró-governo na capital, Damasco; e nas cidades de Aleppo (norte), Deraa (sul), Homs (centro) e Tartus (leste), entre outras. ;Mais de um milhão de cidadãos se concentraram na Praça dos Omíadas, em Damasco;, acrescentou a agência. Na véspera, Al-Assad havia prometido reformas, como a emenda de uma cláusula da Constituição, que tornou o Baath ;o partido dirigente do Estado e da sociedade; desde 1963.

Nizar Ghareeb chegou à Praça Jamal Abd Alnaser, em Homs (centro), por volta das 10h (4h em Brasília). ;Nós somos seu exército, Bashar; e ;Deus, Síria e Bashar, e só;, gritavam milhares de simpatizantes do regime. ;Foi um protesto muito grande, envolvendo todos os grupos religiosos. As pessoas carregavam fotos do presidente e bandeiras da Síria;, comentou Ghareeb, um estudante de farmácia de 21 anos. Por meio da internet, o Correio o questiona sobre os opositores mortos durante o levante. ;Qual é o problema de protegermos nosso país daqueles terroristas?;, rebateu o governista. ;Eu não posso contar para você que crimes horríveis foram cometidos por esses terroristas de m;;, acrescentou.

;Nós amamos Bashar Al-Assad;, comentou o também estudante sírio Mohameh Shalla, que foi às ruas de Damasco para levar seu apoio ao presidente. Ele responsabiliza ;gangues; pelo massacre e garante que apenas cidadãos armados foram assassinados. ;Al-Assad é uma boa pessoa, é a resistência a Israel e trabalha com reformas;, disse à reportagem o rapaz de 21 anos. ;Essa crise vai terminar com todas as pessoas do lado de Bashar;, aposta. O ativista de direitos humanos sírio Radwan Ziadeh ; especialista sobre Oriente Médio na Georgetown University (em Washington) ; acha impossível esse cenário. Por telefone, ele afirmou que Al-Assad tem sofrido baixas até mesmo no serviço público. ;Até o momento, o presidente nada ofereceu. Ele já fez essas promessas (de mudar a Constituição) antes, mas não tomou qualquer atitude em relação às reformas;, explicou.

Ouça a entrevista com o ativista sírio Radwan Ziadeh (em inglês)



;Assassino;
De acordo com Ziadeh, ex-simpatizantes de Al-Assad se frustraram com o ;regime assassino;, incluindo funcionários da máquina estatal e de duas companhias telefônicas pertencentes ao governo. ;Não há nenhum sinal de que esse processo revolucionário será interrompido. As forças de segurança atuam na clandestinidade, como se fossem milícias, matando mais e mais pessoas;, denunciou. A agência France-Presse divulgou que quatro civis morreram ontem ; dois em Homs e dois na região de Deir Ezzor (leste) ;, vítimas de disparos das tropas. Um militante informou que um garoto de 14 anos não resistiu aos ferimentos, após ter sido alvo ;de disparos das tropas ou dos manifestantes pró-Al-Assad;, em Hama, 210km ao norte de Damasco. No mesmo local, manifestantes favoráveis ao regime e opositores entraram em choque. ;Vários carros, alguns deles pertencentes às forças de segurança, foram incendiados;, disse outro ativista à AFP. Na segunda-feira, o presidente norte-americano, Barack Obama, e o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, instaram o governo sírio a ;pôr um fim à violência e aplicar rapidamente reformas significativas;.


Ben Ali ironiza a Justiça da Tunísia
O ex-presidente da Tunísia Zine el Abidine Ben Ali afirmou que sua condenação a 35 anos de prisão por desvio de fundos públicos foi ;legalmente insana;, afirmou seu advogado. Ben Ali disse que ;depois de menos de duas horas de depoimentos... a Corte (em Túnis) chegou a uma sentença que é judicialmente insana, mas politicamente oportuna;, comentou o advogado Jean-Yves Le Borgne. O ex-ditador recebeu o veredicto como uma ;paródia da Justiça;. Ben Ali e a mulher, Leila Trabelsi, foram acusados de apropriação indevida depois da descoberta de dinheiro e joias no palácio do casal, em Túnis.
Ponto crítico
Duplo atentado mata 26 no Iraque

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação