Quem cometeu crimes antes de 20 de junho está perdoado pelo regime sírio. A concessão de anistia é vista como mais uma tentativa do presidente Bashar Al-Assad de contornar o levante popular que completa 100 dias amanhã. ;Senti que a anistia decretada (em 31 de maio) não foi satisfatória, vamos estendê-la para que inclua outros (presos), sem colocar em risco a segurança do Estado;, disse o mandatário, na segunda-feira. No mês passado, Al-Assad indultou os presos políticos e os integrantes da organização Irmandade Muçulmana. No entanto, manteve uma implacável repressão aos opositores, que já custou a vida de 1,3 mil pessoas e levou 10 mil à prisão.
Também numa clara estratégia de melhorar a imagem do governo, a agência estatal de notícias Sana anunciou que ;milhões de cidadãos sírios foram em massa para praças públicas, a fim de apoiar o programa de reformas compreensivo sob a liderança do presidente Bashar Al-Assad;. Em seu site, a Sana publicou fotos de imensas manifestações pró-governo na capital, Damasco; e nas cidades de Aleppo (norte), Deraa (sul), Homs (centro) e Tartus (leste), entre outras. ;Mais de um milhão de cidadãos se concentraram na Praça dos Omíadas, em Damasco;, acrescentou a agência. Na véspera, Al-Assad havia prometido reformas, como a emenda de uma cláusula da Constituição, que tornou o Baath ;o partido dirigente do Estado e da sociedade; desde 1963.
Nizar Ghareeb chegou à Praça Jamal Abd Alnaser, em Homs (centro), por volta das 10h (4h em Brasília). ;Nós somos seu exército, Bashar; e ;Deus, Síria e Bashar, e só;, gritavam milhares de simpatizantes do regime. ;Foi um protesto muito grande, envolvendo todos os grupos religiosos. As pessoas carregavam fotos do presidente e bandeiras da Síria;, comentou Ghareeb, um estudante de farmácia de 21 anos. Por meio da internet, o Correio o questiona sobre os opositores mortos durante o levante. ;Qual é o problema de protegermos nosso país daqueles terroristas?;, rebateu o governista. ;Eu não posso contar para você que crimes horríveis foram cometidos por esses terroristas de m;;, acrescentou.
;Nós amamos Bashar Al-Assad;, comentou o também estudante sírio Mohameh Shalla, que foi às ruas de Damasco para levar seu apoio ao presidente. Ele responsabiliza ;gangues; pelo massacre e garante que apenas cidadãos armados foram assassinados. ;Al-Assad é uma boa pessoa, é a resistência a Israel e trabalha com reformas;, disse à reportagem o rapaz de 21 anos. ;Essa crise vai terminar com todas as pessoas do lado de Bashar;, aposta. O ativista de direitos humanos sírio Radwan Ziadeh ; especialista sobre Oriente Médio na Georgetown University (em Washington) ; acha impossível esse cenário. Por telefone, ele afirmou que Al-Assad tem sofrido baixas até mesmo no serviço público. ;Até o momento, o presidente nada ofereceu. Ele já fez essas promessas (de mudar a Constituição) antes, mas não tomou qualquer atitude em relação às reformas;, explicou.
Ouça a entrevista com o ativista sírio Radwan Ziadeh (em inglês)