Agência France-Presse
postado em 22/06/2011 18:02
BUENOS AIRES - A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, está a caminho de um segundo mandato depois de confirmar que deseja ser reeleita, mas a oposição ainda tem quatro meses para apontar um líder que possa enfrentá-la em outubro, afirmaram nesta quarta-feira analistas políticos.O anúncio da candidatura da presidente tem um contexto de altos índices de popularidade e intenção de voto que ajudam nas pesquisas, apesar de várias acusações de corrupção terem pesado sobre seu governo.
Advogada peronista de 58 anos com traços de centro-esquerda em matéria de Direitos Humanos e pró-indústria no setor econômico, Cristina assumiu o poder em outubro de 2010, quando seu marido morreu, o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), com quem formava de fato um casal presidencial. "A Argentina não decidiu acabar com esse ciclo. Quando uma sociedade decide fechar um ciclo, inventa uma ferramenta", disse à AFP o consultor Jorge Giacobbe, colaborador da ONG Transparência Internacional.
[SAIBAMAIS]Giacobbe lembrou que assim foi como a Argentina "inventou (os presidentes) Fernando de la Rúa (1999-2001), depois de Carlos Menem (1989-1999), e Néstor Kirchner na crise de 2002, apesar de na época ser um desconhecido para 60% dos cidadãos".
A empresa de pesquisa Ibarómetro dá a Cristina Kirchner "um índice de intenções de voto de 45%, com mais de 30 pontos de diferença em relação a qualquer rival", disse à AFP a analista Doris Capurro, diretora da consultoria de mesmo nome. Capurro comentou que "a não ser que ocorra um ;tsunami; inesperado", ela vencerá no primeiro turno. Sua liderança firma-se na situação econômica favorável e no fato de que não se acredita que algum opositor possa superar sua capacidade".
O pilar do peronismo kirchnerista é uma economia que cresce a uma média de 7% ao ano, com recuperação do emprego, produção industrial e subsídios. No entanto, a pobreza ainda é alta e a taxa de inflação real ronda os 25% anuais, quando ninguém acredita nos 10% divulgados pelo governo.
O diretor da consultoria Nueva Mayoría, o cientista político Rosendo Fraga, comentou à AFP que "a primária obrigatória e simultânea de todos os partidos em 14 de agosto pode se transformar em uma interna aberta da oposição". "Se um dos candidatos opositores obtiver mais votos que os demais, por exemplo 6 milhões contra 1,5 milhão, o voto pode se polarizar na presidencial de 23 de outubro", disse Fraga.
Segundo o especialista, "isso poderia reduzir a vantagem que para o governismo é a divisão opositora no primeiro turno" e levar Cristina a um segundo turno. "Hoje há um clima de inevitabilidade (da vitória de Kirchner) que foi encarnada não somente na opinião pública, mas também na oposição", disse a socióloga Graciela Romer, da empresa Romer e Associados.
Romer lembrou que o prefeito de Buenos Aires, o direitista Mauricio Macri, desistiram de enfrentar a presidente, assim como o cineasta de centro-esquerda Fernando ;Pino; Solanas, entre outros.
Restou como adversário de Kirchner, segundo as pesquisas, o deputado Ricardo Alfonsín (União Cívica Radical, social-democrata, segunda força parlamentar), herdeiro de seu pai, o ex-presidente da transição democrática Raúl Alfonsín (1983-1989).
Outros adversários são dois peronistas dissidentes, o ex-presidente Eduardo Duhalde (2002-2003) e o governador da província de San Luis, Alberto Rodríguez Saá, em uma coalizão completada pela liberal-cristã Elisa Carrió e o socialista Hermes Binner, governador de Santa Fé.
O tendão de Aquiles de Kirchner foram os escândalos de corrupção como as supostas fraudes em entidades aliadas, como as Mães da Praça de Maio, ou no estatal Instituto contra a Discriminação. "Mas as pessoas não se ofendem. A Argentina tolera a corrupção. E é uma boa notícia, porque há 20 anos festejava quem poderia apropriar-se de seus milhões de dólares", completou Giacobbe.