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Barack Obama anuncia retirada de 33 mil soldados do Afeganistão

Com um breve discurso de 10 minutos, Barack Obama formalizou ontem seu lance mais agudo na guerra que elegeu como prioridade durante a campanha vitoriosa pela Casa Branca, em 2008, e anunciou os planos para o início da retirada das tropas americanas do Afeganistão. A partir do próximo mês, regressa aos Estados Unidos um primeiro grupo de 5 mil soldados, total que será duplicado até o fim do ano. Até setembro de 2012 ; dois meses antes de o presidente disputar nas urnas a reeleição ; voltarão para casa mais 23 mil, totalizando os 33 mil reforços que o próprio Obama decidiu enviar ao Afeganistão em dezembro de 2009, no marco de uma revisão de estratégia destinada a encerrar a mais longa participação dos EUA em um conflito.

;É o início, mas não o fim, do esforço para terminar essa guerra;, anunciou o presidente, que exibiu como trunfo a execução do líder da rede Al-Qaeda, Osama bin Laden, cuja presença no Afeganistão foi o motivo para a invasão do país, em 2001. ;Nós matamos Bin Laden, o único líder que a Al-Qaeda conheceu;, disse Obama, que festejou o ;fracasso; da organização na tentativa de ;retratar os EUA como um país em guerra com o islã;. Com a rede terrorista ;sob enorme pressão;, o presidente apontou como nova tarefa a ;reconciliação dos afegãos, incluindo o Talibã;, milícia extremista que deu abrigo a Bin Laden. De olho na insatisfação dos eleitores com a situação doméstica, Obama elegeu a crise econômica como novo inimigo: ;Na última década, gastamos US$ 1 trilhão em guerras. É hora de investir na nossa maior riqueza, o povo americano;.

Em resposta aos chamados do Congresso para pôr fim a um esforço militar considerado ;insustentável; até pela oposição republicana, entusiasta da invasão ordenada pelo presidente George W. Bush ; como resposta aos atentados de 11 de setembro ;, Obama resistiu aos que pediam uma retirada mais rápida. Com um custo mensal de US$ 10 milhões e rejeitada pela maioria dos americanos, a campanha no Afeganistão tem sido ainda mais questionada após a operação em que um comando de elite matou o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, no início de maio, no Paquistão. Mesmo assim, o presidente atendeu ao comandante das tropas estrangeiras na frente afegã, o general David Petraeus, e optou por manter por mais um ano o grosso do contingente.

Os EUA mantêm atualmente no Afeganistão cerca de 100 mil combatentes, que se somam a 47 mil enviados por países aliados ; a maior parte integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), núcleo básico das forças que dão sustentação ao presidente Hamid Karzai. O governo afegão enfrenta nos últimos uma ressurgência da milícia islâmica Talibã, tirada do poder pelas tropas americanas, no fim de 2001, por dar refúgio e proteção a Bin Laden e sua rede. Desde a morte do terrorista saudita, congressistas republicanos e democratas (governistas) vinham reclamando uma redução drástica dos efetivos e uma mudança de foco: em vez de apoiar a recomposição das instituições afegãs, as tropas deveriam concentrar-se no combate à Al-Qaeda.

Estratégia
Com a repatriação dos 33 mil soldados enviados como reforço, o presidente espera concluir ; em tempo para a disputa pelo segundo mandato ; a reorientação estratégica que anunciou como candidato. Crítico contundente de Bush pela invasão do Iraque, esforço que teria debilitado a caçada ao ;inimigo número 1; no Afeganistão, Obama dedicou o primeiro ano de mandato a uma revisão da estratégia de defesa. Acelerou a transferência de responsabilidades para as forças iraquianas e determinou, em dezembro de 2009, o aumento do contingente no Afeganistão. Lá, o plano prevê agora uma dedicação maior à preparação das tropas locais para que assumam paulatinamente o controle do território até 2014 ; horizonte para o fim da intervenção, embora a Casa Branca não tenha determinado um prazo para encerrar a presença militar no país.

Militares sob investigação
O governo paquistanês confirmou ontem que mais quatro oficiais do Exército estão sendo interrogados sobre supostas ligações com extremistas islâmicos, dias depois de ter sido anunciada a prisão de um general pelo mesmo motivo. O quatro majores não foram identificados, mas o porta-voz do Exército, general Athar Abbas, informou que eles não foram detidos. O general preso é Brig Ali Khan, o militar de patente mais elevada acusado de manter relações com fundamentalistas.