postado em 23/06/2011 10:48
O regime comunista chinês concedeu liberdade condicional, mediante pagamento de fiança, ao artista dissidente Ai Weiwei, que passou quase três meses detido sob a acusação de ;sonegar uma importante quantia em impostos e destruir intencionalmente documentos fiscais; de sua empresa, a Beijing Fake Cultural. A família e defensores dos direitos humanos alegam que Ai foi preso por criticar o Partido Comunista. De acordo com a agência estatal Xinhua, o benefício foi concedido para que o artista se submeta a tratamento para uma doença crônica, mas também em razão do ;bom comportamento demonstrado ao confessar os crimes e pagar os tributos devidos;.;Estou com a minha família e estou muito feliz agora;, disse Ai, de 54 anos. ;Não posso dar mais informações porque estou em liberdade condicionala;, explicou o artista. O especialista em Direito Chinês Jerome Cohen, da Escola de Direito da Universidade de Nova York, festejou a ;ótima notícia;, que talvez seja ;o melhor desfecho que se poderia esperar;. Cohen explica que a liberdade condicional é um recurso que as autoridades de segurança usam para encerrar casos controversos. ;Geralmente, um acordo é feito com o suspeito e aparentemente foi o que aconteceu neste caso;, esclarece o professor.
Ai Weiwei ficou famoso ao desenhar o célebre estádio Ninho de Pássaro para as Olimpíadas de Pequim, em 2008. Na ocasião, pediu boicote aos jogos e acusou o governo de usá-los como recurso de propaganda e artifício para calar os ativistas pela democracia no país. Embora tenha sido detido em 3 de abril, quando tentava embarcar em um avião com destino a Pequim, os motivos da prisão só foram informado pela polícia 47 dias depois ; o que foi interpretado pela comunidade internacional como uma tentativa de silenciá-lo até que as autoridades encontrassem acusações para justificar a detenção.
Na opinião do cineasta Alison Klayman, ;grande parte da censura que é praticada hoje na China é autocensura, e o fato de Weiwei não se autocensurar é uma boa razão para que seja perseguido;. Alison dirigiu o documentário Ai Weiwei: never sorry (;Ai Weiwei: jamais arrependido;, em tradução livre), a ser lançado em breve.
Segundo o especialista de Nova York, as circunstâncias do caso indicam que o dissidente aceitou uma proposta das autoridades chinesas, que no futuro podem retirar as acusações discretamente, caso ele honre os compromissos estabelecidos no acordo. Legalmente, o caso deve continuar por pouco mais de um ano. Durante esse período, o artista poderá sofrer restrições ao direito de ir e vir, particulamente para realizar viagens internacionais.
Turbulências
A detenção de Ai Weiwei coincidiu com um período de turbulências na China, com uma sucessão de protestos violentos em diferentes regiões. Na província de Cantão, no sul, uma das mais prósperas do país, moradores da cidade de Xintang enfrentaram a polícia durante uma operação contra vendedores ambulantes. Na mesma região, um operário foi ferido durante manifestação por aumento salarial. Revoltas contra funcionários locais corruptos e choques entre etnias compõem um quadro que o estudioso Zheng Yongnian, da Universidade de Cingapura, vê como um desafio à política de ;harmonia social; pregada pelo regime: ;A irritação de propagou por muitas categorias sociais;.