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Kadhafi denuncia bombardeio de civis e afirma que lutará até a morte

Agência France-Presse
postado em 23/06/2011 11:44
O líder líbio Muamar Kadhafi afirmou nesta quarta-feira à noite que lutará até a morte e denunciou os bombardeios da Otan que mataram civis, no momento em que surgem divisões dentro da Aliança Atlântica.

Em uma mensagem de áudio divulgada pela televisão estatal líbia, Kadhafi reconheceu que está "entre a cruz e a espada", mas afirmou que não tem medo da morte e que a batalha contra os "cruzados" do Ocidente irá "mais além".

"Resistiremos e a batalha continuará até mais além, até que destruam vocês, mas nós não seremos destruídos", disse Kadhafi ao prestar homenagem a seu companheiro Khuildi Hamidi, que perdeu vários parentes na segunda-feira em um bombardeio da Otan contra a sua casa.

"Já não é possível acordo algum entre nós depois que vocês mataram nossos filhos e netos (...). Estamos entre a cruz e a espada. Vocês (os ocidentais) podem retroceder", acrescentou. "Não temos medo. Não estamos tentando viver ou escapar", disse, denunciando uma cruzada contra um país muçulmano que atinge civis e crianças.

Na segunda-feira, a Otan bombardeou, em Sorman, 70 km a oeste de Trípoli, a residência de Juildi Hamidi, um influente político e antigo companheiro do coronel Kadhafi, matando 15 pessoas, disseram as autoridades. Vários familiares de Hamidi morreram no bombardeio aéreo, incluindo três crianças.

A Otan admitiu ter efetuado um "ataque de precisão" contra um "centro de comando e controle de alto nível". "Com que direito vocês atacam os políticos e suas famílias?", denunciou o coronel Kadhafi. O líder líbio disse que o escritório de Khuildi Hamidi em Trípoli tinha sido bombardeado em quatro oportunidades. Os ocidentais "queriam ele porque é um herói. Ao não encontrá-lo em seu escritório, quiseram matá-lo em sua casa", disse.

Kadhafi pediu que a ONU envie investigadores para a residência bombardeada dos Hamidi, para comprovar que era um local civil, e não militar, como indicou a Otan. Ele prometeu que construirá um monumento, "o mais alto da África do Norte", em memória de Khaleda, neta de Hamidi, de quatro anos, que morreu no bombardeio, segundo as autoridades de Trípoli.

"Vamos ficar, vamos resistir e não vamos nos curvar. Ataquem-nos com seus mísseis, dois, três, dez ou cem anos", exclamou Kadhafi. "Honra à família Hamidi e, para nós, a glória", bradou.

O discurso do líder líbio foi proferido no momento em que surgem divisões entre os países da Otan em relação à operação na Líbia. A Itália, país que abriga o quartel-general da operação e bases das quais decolam os bombardeiros da Otan, denunciou os ataques contra civis e a estagnação do conflito, que deixou milhares de mortos desde 15 de fevereiro.

O ministro italiano das Relações Exteriores, Franco Frattini, pediu na quarta-feira "uma suspensão imediata das hostilidades" na Líbia com o objetivo de organizar corredores humanitários para ajudar a população. Essa proposta foi rejeitada imediatamente pela França, que considerou que uma trégua, inclusive com fins humanitários, permitiria a Kadhafi "se reorganizar".

O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, também se opôs à interrupção das operações, afirmando que a Aliança Atlântica "continuará sua missão porque se pararmos, inúmeros civis poderão perder suas vidas". Os erros recentes da Otan, que assumiu o comando das operações no dia 31 de março, assim como os custos da guerra para economias em crise, geram debates e reações nos países envolvidos.

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