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Retirada dos EUA: boa medida para Karzai, apenas simbólica para talibãs

Agência France-Presse
postado em 23/06/2011 17:53
O presidente afegão, Hamid Karzai, considerou nesta quinta-feira uma "boa medida" o anúncio feito pelo presidente Barack Obama do início da retirada de suas tropas do Afeganistão, algo que os talibãs qualificaram imediatamente de "simbólico" e "insuficiente".

A retirada de 33 mil soldados americanos do Afeganistão, anunciada na quarta-feira por Obama, terminará no "fim de setembro" de 2012, disse o secretário de Defesa Robert Gates à AFP, acrescentando que o general David Petraeus teria preferido "mais tempo".

Petraeus expôs a Obama "uma série de opções, entre elas uma retirada a partir de julho", explicou Gates.

Os planos de saída do Afeganistão apresentados por Obama "são mais importantes e envolvem mais riscos do que eu estava originalmente preparado para aceitar", disse aos legisladores nesta quinta-feira o almirante Mike Mullen.

"Mais forças durante mais tempo é, sem dúvida alguma, o caminho mais seguro. Mas isso não o torna necessariamente o melhor caminho", disse o chefe de Estado-Maior conjunto americano à comissão de Serviços Armados da câmara baixa.

O Pentágono assegurou a legisladores americanos que a retirada de tropas do Afeganistão anunciada por Obama não envolve "uma saída antecipada" que possa colocar em risco "as conquistas em segurança alcançadas".

A subsecretária de Defesa, Michele Flournoy, afirmou diante da Comissão de Serviços Armados do Congresso que 68 mil soldados permanecerão no Afeganistão, após a retirada de 33 mil no fim de setembro de 2012.

A Espanha começará a retirar suas tropas do Afeganistão em 2012 de maneira progressiva, informou a imprensa espanhola, citando fontes do ministério da Defesa.

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, reconheceu no Paquistão que seu país está envolvido nos "contatos" mantidos com os talibãs afegãos, mirando um processo de paz, algo que Washington já admitiu no domingo.

Os talibãs continuam rejeitando oficialmente qualquer negociação de paz enquanto os 140 mil soldados ocidentais mobilizados no país continuarem ali.

No entanto, os talibãs não mencionaram nesta quinta-feira o anúncio feito recentemente pelo governo de Cabul e pelos Estados Unidos sobre a existência de contatos "preliminares" com os norte-americanos com o objetivo de realizar negociações.

"Saudamos hoje o anúncio feito pelo presidente dos Estados Unidos", disse Karzai. "Consideramos que é uma boa medida para eles e para o Afeganistão, e a apoiamos", acrescentou.

Os talibãs reiteraram que apenas uma "retirada imediata do Afeganistão de todas as forças internacionais" permitirá acabar com o conflito, e prometeram que seus combates "irão se intensificar ainda mais".

Os talibãs também denunciaram a "falta de respeito" de Obama em relação aos que pedem o fim do conflito, e denunciaram a atual negociação entre Washington e Cabul de um acordo de associação estratégica a longo prazo, uma aliança que, segundo os rebeldes, pode apenas alimentar o conflito.

Os soldados que serão retirados do Afeganistão até meados de 2012 correspondem aos reforços que Obama decidiu enviar em dezembro de 2009.

Segundo ele, estes reforços cumpriram sua missão de romper com o avanço dos talibãs e de impedir que a Al-Qaeda se implantasse novamente.

Esta explicação não é compartilhada por diversos especialistas, que sustentam, pelo contrário, que a rebelião ganhou espaço nos últimos anos, multiplicou suas ações e estendeu-se para todo o país, incluindo Cabul e áreas nas quais até então estavam à margem dos combates.

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