postado em 01/07/2011 08:00
O desabafo foi de filho e de ex-primeiro-ministro, ávido por ver os assassinos de seu pai na cadeia e o país estável. %u201CHoje, nós presenciamos um momento histórico na vida política do Líbano, da segurança e dos sistemas éticos%u201D, afirmou Saad Hariri, líder da oposição parlamentar, por meio de um comunicado. %u201CE eu sinto, do fundo de meu coração, o abraço de todos os corações de libaneses que defenderam a causa da justiça e que se recusaram a barganhar sobre o sangue dos mártires%u201D, acrescentou. Saad referia-se à decisão do Tribunal Especial para o Líbano (STL) de indiciar quatro integrantes do movimento xiita Hezbollah pelo assassinato de seu pai, o também ex-premiê Rafik Hariri, em 2005 (leia a memória nesta página). Em nota, o STL anunciou que o juiz Daniel Fransen expediu as ordens de prisão e determinou que o indiciamento não significa um veredicto de culpabilidade. %u201CPresume-se que qualquer pessoa acusada é inocente, a menos que sua culpa seja estabelecida no julgamento%u201D, afirma o órgão, baseado em Haia (Holanda).
O tribunal recusou-se a informar as identidades dos acusados, mas o jornal libanês Daily Star divulgou tratar-se de Mustafa Bradeeddine, chefe de operações do Hezbollah; Salim Al-Ayyash, militante que transportou um celular até o local do atentado à bomba; Hassan Issa e Asad Sabra. %u201COs dias dos assassinos acabaram. Meu coração está cheio de alegria. Os mártires agora podem descansar em paz%u201D, comentou Saad Hariri. Em entrevista coletiva, o atual premiê libanês, Najib Miqati, destacou que seu governo %u201Cestá tomando os primeiros passos para apurar as responsabilidades%u201D (sobre o assassinato), garantiu a lealdade ao %u201Cmártir%u201D Rafik Hariri e jurou manter a base nacional defendida pelo líder morto. Bradeeddine, um dos citados pelo STL, é cunhado de Imad Mughniyeh %u2014 um ex-comandante do Hezbollah que foi assassinado na Síria em 2008.
Um dos líderes da oposição, Farès Souaid confirmou que %u201Cum grupo de especialistas do STL entregou hoje (ontem) ao procurador-geral Said Mirza a ata de acusação%u201D. %u201CEsse é um grande dia para o Líbano. Temos esperado por isso há seis anos. Esperamos que a justiça seja servida e que o Líbano consiga olhar em direção a um futuro mais estável%u201D, disse Souaid. Uma fonte judicial do Líbano afirmou que os mandados de prisão foram entregues lacrados e devem ser executados contra quatro libaneses. Em tese, o Líbano tem 30 dias para prender os acusados. Caso isso não ocorra, o STL divulgará a ata de acusação e convocará os quatro a comparecer ao tribunal. O documento, de 163 páginas, contém detalhes dos três anos de investigações. Até o fechamento desta edição, a reação do Hezbollah se limitavao a uma declaração da emissora de tevê Al-Manar, de propriedade da milícia, que tachou os indiciamentos de %u201Cpolitizados%u201D.
Violência
Em Beirute, os temores são de que o Hezbollah fomente uma nova onda de assassinatos, como retaliação ao STL. %u201CSe os membros da milícia forem condenados, ela será obrigada a escalar a violência%u201D, afirmou ao Correio, pela internet, a estudante libanesa Lama Al-Ayoyuby, de 20 anos. %u201CO Hezbollah já exauriu suas cartadas políticas e o que ocorreu em 7 de maio de 2008 foi um bom exemplo do que eles podem fazer%u201D, acrescentou. Naquele dia, manifestantes aliados à facção tomaram as ruas da capital, bloquearam as vias com pneus em chamas e ostentaram suas armas. O aeroporto ficou isolado e o porto, ocupado por milicianos.
Uma fonte da ONU revelou à rede de tevê CNN que outras duas listas de indiciados devem ser divulgadas nos próximos meses, contemplando os mentores do ataque contra Hariri. O assassinato do ex-premiê despertou rumores sobre um possível envolvimento da Síria, cujas tropas ocuparam o Líbano por 29 anos até a retirada do país, em abril de 2005. Moradora de Beirute, a contabilista síria Rola Abiad, de 35 anos, duvida do envolvimento de Damasco. %u201CHariri era uma marionete da Síria. Por que haveriam de querer matá-lo?%u201D, questiona. Ela também aposta que o Hezbollah não matou o ex-premiê e acredita numa farsa. %u201CEm 2006, durante a guerra com Israel, mais de 1,2 mil pessoas morreram e ninguém se importou. Um homem morre e o mundo inteiro se revolta%u201D, ironiza. %u201CO STL está falsificando testemunhas. É uma mentira imensa, apenas para pôr fim a resistência a Israel%u201D, acrescenta a contabilista.