postado em 01/07/2011 08:15
A guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) esteve próxima de conseguir reconhecimento político da França e uma abertura diplomática com a Europa como parte de negociações sigilosas envolvendo a libertação da política franco-colombiana Ingrid Betancourt, refém dos rebeldes por mais de seis anos.O diplomata francês Noel Sáez, que manteve encontros com o então porta-voz internacional das Farc, Raúl Reyes, mediante autorização do governo de Bogotá, fez a revelação em um documentário exibido no Equador.
Os contatos não levaram a algum tipo de acordo e Ingrid acabou sendo resgatada pelo Exército colombiano em julho de 2008, três meses depois de Reyes ter sido morto em um bombardeio. O filme, porém, sustenta que a Operação Xeque, na qual a ex-candidata presidencial foi libertada, teria sido fachada para uma negociação entre o governo colombiano e dois guerrilheiros responsáveis pela guarda dos reféns.
;Por instrução do presidente da República, do governo francês, eu propus a Raúl: se vocês soltarem os sequestrados, Ingrid e os demais, nós vamos até a União Europeia para que tire as Farc da lista de organizações terroristas;, afirmou o emissário de Nicolas Sarkozy. ;Também podemos pensar, se aceitarem, permitir às Farc que abram escritório em Paris, quer dizer, que tenham uma representação diplomática, como tinham no México.;
Sáez, ex-militar que se tornou diplomata, não mencionou a data em que a proposta foi feita, mas ele e o diplomata suíço Jean Pierre Gontard reuniram-se com Reyes em 18 de junho de 2007. Em julho de 2008, o francês confirmou ter se reunido também com um emissário ;de confiança; de Alfonso Cano, que assumira o comando máximo da guerrilha quatro meses antes, com a morte do lendário Manuel Marulanda.
De acordo com as declarações exibidas no documentário, a oferta se baseava na troca de compromissos firmados. ;Se vossa senhoria comprometer-se a libertar Ingrid Betancourt e todos os sequestrados, por escrito, diante da comunidade internacional, eu lhe garanto que trago aqui um documento assinado pelo ministro ou pelo presidente;, relatou Saez. A proposta francesa já tinha sido mencionada em um despacho confidencial do Departamento de Estado norte-americano datado de 24 de junho de 2008 e publicado pelo site WikiLeaks.
Pagamento
O relato do diplomata francês é apenas uma das passagens polêmicas do documentário Operación Jaque, una jugada no tan maestra (;Operação Xeque, uma jogada não tão de mestre;, em tradução livre), do diretor colombiano Gonzalo Guillén. O filme sustenta que, longe de ter resultado de um elaborado trabalho de inteligência, como diz a versão oficial, a libertação de Ingrid e outros reféns, inclusive três americanos, foi uma negociação econômica entre o governo colombiano, com participação dos EUA, e dois comandantes de escalão médio das Farc. ;Foi um negócio que acabou bem;, diz Guillén.
Segundo o diretor, o então presidente Álvaro Uribe teria oferecido US$ 100 milhões de dólares aos dois rebeldes, que desertaram com os sequestrados. A versão coincide com o pronunciamento oficial das Farc, que acusou de ;traição; o guerrilheiro conhecido como El Mocho Cesar, supostamente capturado quando, segundo o Exército, levava os reféns ao encontro de uma missão humanitária ; na verdade, o comando de elite que executou o resgate.
Cesar e o outro suposto ;traidor;, conhecido como Gafas, foram extraditados para os EUA, onde o primeiro será julgado pelo sequestro dos três americanos. O outro foi condenado a 27 anos de prisão, por tráfico de drogas.