Agência France-Presse
postado em 01/07/2011 10:05
Roma - O novo diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva, admitiu que muitos países pobres não conseguirão cumprir com as metas fixadas pela ONU para reduzir até 2015 pela metade o número de pessoas que passam fome, em uma entrevista concedida nesta sexta-feira AFP.Em 2000, os 192 países membros das Nações Unidas fixaram os chamados Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, entre eles o de reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, a proporção de pessoas que padecem com a fome, calculada em cerca de 400 milhões de pessoas.
"A Meta do Milênio estabelecia reduzir pela metade o número de pessoas com fome. Ainda assim, creio que muitos países pobres não poderão fazê-lo, principalmente os países pobres menores, onde muitas vezes as necessidades e urgências são maiores", afirmou, em uma das primeiras entrevistas concedidas à imprensa.
"O que faz falta são duas coisas: recursos e cooperação internacional para apoiar esses países mais frágeis, porque eles não podem alcançar os objetivos por conta própria", explicou.
"Para a erradicação da fome não é preciso inventar a roda. Não é algo como uma central atômica, que precisa de grandes inovações tecnológicas. São programas conhecidos, como aumentar a produtividade da agricultura familiar, desenvolver os mercados locais de alimentos, porque é aí que se produz a segurança alimentar", acrescentou.
"Há muitos países que avançaram, como Mali, na África, ou Vietnã. Outros conseguiram progressos substanciais e superaram as expectativas do milênio de reduzir pela metade o número de pessoas que sofrem com a fome, porque dedicaram recursos e esforços concentrados para isso", disse ainda.
"Os países que mostraram avanços importantes envolveram a própria sociedade no tema da erradicação da fome", enfatizou Graziano, artífice do programa "Fome Zero" e um dos técnicos mais atuantes no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"É preciso conseguir um compromisso político dos países para assumir a luta contra a fome num nível mais elevado".
O diretor eleito da FAO antecipou que os países membros da entidade acertaram um aumento, sem especificar o montante, do orçamento da agência da Nações Unidas, tal como exigido por ele.
"Não aceito o crescimento zero. Porque os temas da FAO crescem diariamente e pela situação de instabilidade financeira, com a desvalorização do dólar. Aceitar um orçamento em dólares fixo é condenar a uma redução que vai se acumulando em anos, até o desequilíbrio financeiro", comentou ainda.
O orçamento começa a ser discutido nesta sexta-feira em Roma durante a 37; Sessão da Conferência da ONU, que concluíra no sábado.
"A solidariedade do mundo desenvolvido é a chave", admitiu, acrescentando que os representantes de mais de 10 países ricos já manifestaram seu apoio e vontade de cooperação.
O novo diretor-geral da FAO - que assumirá o cargo em 1; de janeiro de 2012 e permanecerá na função até julho de 2015 - é o primeiro latino-americano a ocupar essa posição desde que a organização foi fundada em 1945.
Na disputa pelo cargo, o brasileiro, que obteve 92 votos contra 88 do ex-chanceler espanhol Miguel Angel Moratinos, recebeu o apoio da América Latina e dos chamados "países não-alinhados" do G-77, entre eles, boa parte da África e Indonésia.