postado em 02/07/2011 17:58
CARACAS - Os venezuelanos continuavam se perguntando neste sábado sobre a gravidade do câncer de Hugo Chávez e sobre sua volta ao país, enquanto o governo insiste na recuperação do presidente, que disse de Cuba que sairá fortalecido desta batalha."Estes dias têm sido de recuperação (...) Estamos muito otimistas e temos certeza de que vamos sair dessa também", disse Chávez na noite de sexta-feira em uma breve ligação telefônica a uma tv cubana. O presidente venezuelano, que está em Cuba desde o começo de junho, foi submetido a duas operações de emergência.
A primeira foi por causa de um abscesso na região pélvica que permitiu identificar um tumor malígno que foi retirado numa segunda cirurgia realizada com sucesso, conforme explicou o próprio presidente ao venezuelanos na mensagem televisionada confirmando os rumores que se multiplicavam nos últimos dias na Venezuela.
Chávez, de 56 anos, não explicou onde estava situado o tumor, não deu detalhes sobre o tipo de tratamento que está recebendo nem sobre o tempo que precisa ficar em Cuba.
"O presidente tem o direito de ficar o tempo necessário para que se recupere (...) e estará (em Cuba) pelo tempo que os médicos determinarem", se limitou a dizer o vice-presidente Elías Jaua.
Desde sexta-feira, se repetiram manifestações de solidariedade ao líder venezuelano, além de mensagens de apoio de dentro e fora do país. Chávez respondeu que "por enquanto e para sempre viveremos e venceremos".
No entanto, a falta de Chávez é sentida em cada ato do governo e apesar da frase "pa;lante comandante" (;pra frente, Comandante; em livre tradução) repetida pelos partidários do governo, os temores e a tristeza são evidenciados nas manifestações de apoio celebradas desde a sexta-feira.
"Não oficialmente é possível ver o fantasma da vulnerabilidade de Chávez", disse à AFP o ex diplomata Edmundo González Urrutia. Chávez, que chegou ao poder em 1999, é um presidente carismático, hiperativo e com um grande apoio popular. Ele incorpora a revolução bolivariana e governa aconselhado por um pequeno grupo de pessoas.
O presidente é o candidato do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) para a eleição presidencial de 2012 e ainda é difícil imaginar quem poderia substituí-lo se ele for afastado da vida política para cuidar da saúde.
Segundo o presidente do instituto de pesquisa Datanalisis Luis Vicente León, a oposição venezuelana, que vai escolher apenas um candidato às eleições presidenciais no começo de 2012, não deve confiar nesta nova situação.
"A oposição deve se preparar para uma batalha mais dura do que alguns estão esperando. Com ou sem Chávez, a oposição precisa se unir para disputar a presidência, levar apenas um candidato com uma proposta original", afirmou.
Neste momento, o esforço do governo é para não deixar transparecer um racha e confirmar que Chávez continua com o poder executivo, algo que segundo especialistas vai contra a Constituição.
A Carta Magna venezuelana estabelece que numa ausência temporária do chefe de Estado, o vice-presidente deve assumir de forma provisória seus poderes. Também deixa claro que esta ausência temporária não poder ser mais longa do que 90 dias, prorrogáveis por mais 90 pelo Parlamento, antes de decretar uma ausência absoluta.
Neste caso, no entanto, o Parlamento sequer decretou a ausência temporária de Chávez, que de Havana continua assinando os decretos e dizeres do governo venezuelano. Isto, segundo especialistas, vai contra outro artigo da Constituição, que estipula que o Poder Executivo deve ter sua sede em Caracas.
"Não há ausência absoluta nem ausência temporária (...) O presidente está em pleno exercício de mandato. Não há necessidade de transferência de mandato temporario", insistiu Jaua, que de fato já preside alguns atos de governo que normalmente seriam feitos por Chávez.