Agência France-Presse
postado em 04/07/2011 15:39
CARACAS - O presidente venezuelano Hugo Chávez surpreendeu e retornou a Caracas na madrugada desta segunda-feira (4), procedente de Cuba, onde foi operado de um tumor maligno, e afirmou que a volta ao país marca o início da plena retomada da vida política."Saúdo o povo venezuelano com todo meu coração (...) Chegamos pelo amanhecer, com o sol saindo. Estamos muito felizes por estar em casa", afirmou Chávez à rede de televisão oficial VTV, enquanto eram exibidas as imagens do momento em que o mandatário pisou novamente em território venezuelano, depois de ter passado quase um mês em Cuba.
"Volto ao epicentro de (Simón) Bolívar. E isso é pura chama, pura vida. Estamos no início do retorno", acrescentou o presidente, antes de explicar que retornou à rotina de quando era "cadete" do Exército: "exames médicos, horário estrito, medicamentos, reabilitação".
[SAIBAMAIS]O chefe de Estado venezuelano, de 56 anos, que apareceu sorridente e animado no vídeo, foi operado em Cuba de um tumor maligno. Ele estava desde o início de junho em Havana se recuperando de uma primeira cirurgia por um abscesso pélvico.
No retorno a Caracas, Chávez, com roupas esportivas, reapareceu falante e mais animado que nos vídeos divulgados nos últimos dias em Havana, quando parecia mais debilitado pela doença. Chávez, que desceu do avião com os braços para o alto, foi recebido no aeroporto pelo vice-presidente, Elías Jaua, por seu irmão, Adán Chávez, e por vários ministros.
"Quase que Fidel sobe no avião", brincou o presidente, que chegou a cantar durante o desembarque e felicitou a seleção da Venezuela pelo empate de 0-0 com o Brasil na estreia da Copa América.
Horas antes de Chávez chegar à Venezuela, o líder cubano Fidel Castro afirmou que seu aliado conseguirá uma "grande vitória" na "batalha decisiva" contra a doença, cuja recuperação já está dando resultados "impressionantes".
Segundo Jaua, o presidente está "muito animado" e "com muita vontade de seguir a batalha pela plena recuperação de sua saúde". "Este retorno é um início das futuras batalhas e das vitórias futuras que teremos como povo e com ele como líder à frente", assegurou.
Chávez, que disse confiar plenamente na cura, terá uma celebração com a população nesta segunda-feira em uma cerimônia organizada na porta do palácio presidencial de Miraflores. No entanto, o presidente já anunciou após a sua chegada que não poderá assistir as celebrações do Bicentenário da Independência, previstas para terça-feira.
"Não creio que possa acompanhá-los nos atos oficiais, mas estou aqui e estarei com vocês do meu posto de comando no coração de Caracas e da Venezuela. Com certeza, nunca me fui, nunca fui embora. Sempre estou com vocês", disse Chávez.
Uma importante reunião de cúpula latino-americana prevista para terça e quarta-feira na Venezuela foi cancelada na semana passada devido à doença do mandatário. Apesar dos problemas de saúde em Cuba, o governante não delegou os poderes de forma temporária ao vice-presidente e continuou governando de Havana, o que provocou muitas críticas da oposição, que considerou o comportamento inconstitucional.
Chávez, no poder desde 1999, é candidato do partido PSUV nas eleições presidenciais de 2012, quando disputará o terceiro mandato de seis anos. Durante sua ausência, o governo tentou demonstrar união e reiterou que não há outro líder diferente de Chávez, um presidente carismático e popular que ofusca qualquer outra figura dentro do partido. "Teremos governo bolivariano e presidente por um bom tempo", garantiu o ministro das Relações Exteriores, Nicolás Maduro, recentemente.
Para Luis Vicente León, diretor da empresa de pesquisas Datanálisis, o retorno do presidente era "perfeitamente previsível". "Com sua doença, surgem fortes incertezas na base do chavismo e no chavismo dirigente. Nos primeiros há cada vez mais desilusão; nos segundos, a luta pelo poder. Chávez precisa parar com ambas as coisas o quanto antes para manter a unidade da revolução", explicou à AFP.
Segundo o especialista, a presença do presidente em Caracas pode ser "mágica e motivadora" para seus seguidores, mas a pergunta de fundo segue sem resposta. "Poderá Chávez enfrentar a campanha eleitoral de 2012? Por não termos detalhes da gravidade de sua doença, não sabemos se ele mesmo sabe se poderá, mas se puder, irá para a campanha de qualquer maneira e tentará manter o poder", assegurou.