postado em 10/07/2011 18:34
Damasco - O regime sírio assegurou neste domingo que quer reativar "o diálogo nacional" para favorecer a transição do país para a democracia, mas sem interromper a repressão em várias cidades, que deixou ao menos um morto em Homs (centro).
Segundo alguns militantes, os tanques entraram neste domingo em vários bairros de Homs, onde os disparos das forças de segurança deixaram ao menos um morto.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) citou "intensos tiroteios" em vários povoados nos arredores de Homs, assim como prisões.
O exército prosseguiu também com sua ofensiva na região de Khabal el Zawiya, na província de Idleb (noroeste), segundo a OSDH, que citou militantes.
Acusando o "exterior" de querer sabotar seus esforços, o regime convocou neste domingo os embaixadores de Estados Unidos e França para protestar contra sua visita à cidade rebelde de Hama (norte) sem autorização, segundo a agência oficial Sana.
"Sua visita demonstra que existe um apoio do exterior para desestabilizar o país, justo quando acaba de se abrir um diálogo nacional, que tem por objetivo construir o futuro da Síria", completou a agência, que criticou "uma ingerência flagrante nos assuntos internos sírios".
Paralelamente, a embaixadora síria em Paris foi convocada neste domingo ao ministério francês de Relações Exteriores, que desejava protestar "vigorosamente" pelos danos causados a sua embaixada na Síria, assim como a um consulado.
A reunião sobre o diálogo nacional, para discutir emendas constitucionais e examinar um projeto de lei sobre o multipartidarismo, que durará dois dias, foi aberta pela manhã, na presença do vice-presidente Faruk al Shareh e 200 pessoas mais, membros do Partido Baath, independentes e representantes da sociedade civil (atores, escritores e intelectuais).
Shareh afirmou no início do encontro que as discussões servirão de preparação para uma grande reunião nacional.
"Teremos uma reunião nacional global na qual anunciaremos a transição da Síria para um Estado multipartidarista, democrático, no qual todos serão iguais e participarão na construção do futuro do país", declarou.
Os participantes devem falar de reformas políticas, como emendas constitucionais e, entre elas, a cláusula que faz do Partido Baath, no poder desde 1963, "o dirigente do Estado e da sociedade".
Em um discurso pronunciado em 20 de junho, o presidente Bashar al Assad pediu um "diálogo nacional que poderá levar a emendas constitucionais ou a uma nova Constituição".
Shareh reconheceu que "o diálogo começa dentro de um clima incômodo, de suspeita", e que "muitos obstáculos naturais ou artificiais impedem a transição" para a democracia.
Os opositores ao regime, por sua vez, decidiram boicotar a iniciativa e reclamam que, antes de dialogar, seja feita a retirada das forças sírias das cidades, a libertação dos prisioneiros políticos e dos manifestantes pacíficos, e uma investigação dos crimes cometidos contra os manifestantes.
Nesse sentido, os manifestantes continuam pedindo também a queda do regime e exigem eleições livres.
A repressão do movimento de protesto contra o regime, iniciado em 15 de março, custou a vida de mais de 1.300 civis, segundo as ONGs.
O vice-presidente reconheceu que "sem os sacrifícios feitos pelo povo sírio, que derramou seu sangue em mais de um governo, essa reunião não poderia ocorrer".
O presidente reiterou a vontade de reforma do regime, e destacou que "as circunstâncias impediram uma plena aplicação das leis promulgadas recentemente, como a que anulou o estado de emergência".
Na reunião, transmitida diretamente pela emissora pública, o escritor próximo à oposição Tayyeb Tizini disse que o essencial é "desmantelar o Estado de segurança", em alusão aos serviços secretos, onipresentes na vida pública. "É uma condição sine qua non", insistiu.