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Ética jornalística entra em pauta no Reino Unido após escândalo dos grampos

postado em 12/07/2011 08:08
Gordon Brown se diz O grampo telefônico feito pelo tabloide News of the World pode ter tido um alcance muito maior do que os britânicos esperavam. As investigações começam a apontar para o jornal Sunday Times ; também do grupo de mídia News International, a publicação é suspeita de usar a escuta ilegal para obter informações. Após gravar conversas telefônicas de uma adolescente desaparecida e assassinada, das vítimas dos atentados ao metrô de Londres em 2005, de membros da família real e de famílias de soldados mortos no Iraque e no Afeganistão, as investigações revelaram que o ex-premiê Gordon Brown teve a privacidade violada. Jornalistas da companhia do magnata Rupert Murdoch acessaram não só a caixa postal do celular de Brown, como a sua conta bancária e o histórico médico de sua família. Há relatos de que outros jornais do grupo, incluindo o The Sun, também teriam praticado a espionagem e a escuta ilegal.

Em dezembro de 2001, quando a primeira filha do ex-primeiro-ministro nasceu, ela sofreu uma hemorragia no cérebro e havia poucas esperanças de que a menina sobrevivesse. A delicada informação acabou estampada nos tabloides britânicos. As manchetes foram publicadas dois dias antes da morte de Jennifer Brown. Em outubro de 2006, a editora do The Sun, Rebekah Brooks, ligou para o ex-premiê (que na época era ministro da Economia de Tony Blair) e alegou que possuía informações sobre a saúde de seu filho de quatro meses, Fraser. Segundo os dados obtidos pelos repórteres, o filho de Brown era portador de fibrose cística. Antes de o diagnóstico ser confirmado para a família, o jornal publicou a reportagem.

Choque
Brown disse estar ;chocado; por ter seu telefone grampeado, o extrato da conta bancária revisado e a saúde de sua família revelada. ;Ele foi informado sobre a escala de invasão à vida de sua família. Estão todos chocados com o nível de criminalidade e com os meios pouco éticos pelos quais detalhes de sua vida pessoal foram obtidos. O assunto está nas mãos da polícia, e o senhor Brown passou todas as informações que obtinha para eles;, afirmou a porta-voz do ex-premiê britânico. Sarah, a mulher do político, desabafou no microblog Twitter: ;É triste descobrir tudo isso sobre a privacidade da minha família, é muito pessoal e doloroso, se tudo for verdade;.

Para George Brock, professor e coordenador do Departamento de Jornalismo da City University London, o escândalo dos grampos foi longe demais e pode ter um impacto não apenas no Reino Unido, mas no mundo todo. ;Para começar, eles (os jornalistas) agiram contra a lei e, quando o assunto é privacidade, torna-se necessário analisar o que realmente é de interesse público. Eu acredito que isso vai causar rupturas globais em dois pontos. Primeiro, onde a companhia de Rupert Murdoch tiver operações, o escândalo vai tornar suas publicações impopulares e elas devem fechar. E os métodos que os repórteres usam para obter informações terão uma inspeção mais minuciosa em todos os lugares;, afirmou o especialista britânico ao Correio, pela internet.

A troca de e-mails que demonstravam o pagamento de um policial para obter o número de telefone e de outros contatos da família real também foi divulgada ontem. As denúncias contra o tabloide do grupo News International surgiram em 2006, depois que o jornal publicou uma história sobre uma cirurgia no joelho do príncipe William. Também existe a possibilidade de que parentes de vítimas dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 tiveram os telefones grampeados. A revelação de que jornalistas usavam escutas em troca de informações chocou os britânicos. ;É um tema falado por todos, e milhares de pessoas estão revoltadas com o desenvolvimento do caso. Para a mídia, tanto violar a lei quanto ter atitudes cruéis é inaceitável;, comentou Brocks.
Jornalistas da companhia de Murdoch acessaram conta bancária de Brown
Murdoch é impedido de comprar a BSkyB
O governo britânico encaminhou às autoridades competentes a oferta do grupo de Rupert Murdoch (foto) para adquirir a totalidade da plataforma televisiva BSkyB, o que atrasará em meses o desenlace da operação. O ministro da Cultura, Jeremy Hunt, encarregado do tema, fez o anúncio no Parlamento, após a companhia do magnata australiano ; a News Corp. ; afirmar que retirava as concessões feitas ao governo em sua Oferta Pública de Aquisição de Ações (OPA) para adquirir os 61% restantes de BSkyB, da qual já possui 39%, e aceitava submeter-se à competição. Para tentar salvar a operação, Murdoch anunciou o fechamento do News of the World, cuja última edição foi publicada no domingo.

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