postado em 13/07/2011 08:17
Ahmed Wali Karzai lavou o rosto e as mãos e saiu do banheiro de sua suíte, na fortificada mansão erguida na Rua Shar-e-Naw, no centro da cidade de Kandahar. Passava das 11h (3h30 em Brasília) de um dia ensolarado de verão quando Sardar Mohammad atravessou os postos de revista instalados dentro da casa, sem ser perturbado, e foi ao encontro do patrão, o irmão caçula do presidente Hamid Karzai. O chefe de segurança do homem mais poderoso do sul do Afeganistão apontou sua pistola e disparou duas vezes, primeiro contra a cabeça e depois contra o peito de Ahmed Karzai. Quando chegaram à suíte, os guarda-costas mataram Sardar com vários tiros. Ahmed foi levado ao Mirwais Hospital, mas chegou sem vida. Os detalhes do crime foram revelados ao Correio por um integrante do Centro de Informação e Mídia de Kandahar, sob a condição de anonimato. Qari Yusuf Ahmadi, porta-voz do Talibã, afirmou à agência France-Presse que um dos guarda-costas da vítima trabalhava para a milícia fundamentalista islâmica. ;É um de nossos maiores êxitos desde que começou a ofensiva (da Primavera). Recentemente, havíamos encomendado a Sardar Mohammed que o matasse;, declarou Ahmadi.;Meu irmão caçula foi martirizado em sua casa hoje. Esta é a vida de todo o povo afegão. Eu espero que essas desgraças que toda família afegã enfrenta diariamente terminem um dia;, desabafou o presidente Hamid Karzai, durante uma entrevista coletiva na tarde de ontem. Ele desembarcou na noite de ontem em Kandahar, onde participa do velório do irmão. ;O funeral foi marcado para amanhã cedo, e o presidente e uma delegação do governo estarão presentes;, afirmou o gabinete do governador de Kandahar, Toryalai Wisa. Aliado do Afeganistão, o governo dos Estados Unidos expressou repúdio com o assassinato de Ahmed e apresentou condolências à família do morto. ;Os EUA condenam nos termos mais fortes o assassinato do irmão do presidente Karzai em Kandahar;, afirmou Jay Carney, porta-voz da Casa Branca.
O jornalista do Centro de Informação e Mídia de Kandahar contou à reportagem que as forças de segurança detiveram suspeitos de participação no crime. Ele duvida que milicianos talibãs tenham matado Ahmed Karzai e acredita numa jogada de marketing do grupo islâmico. ;O Talibã sempre reivindica autoria nessas ocasiões;, observou. Segundo o repórter afegão, o irmão do presidente era o mais importante líder tribal do sul do Afeganistão e tinha influência sobre a situação da segurança em Kandahar.
Segurança
Também sob a condição de anonimato, um integrante da Agência de Inteligência Afegã (NDS) confirmou à France-Presse que Sadar Mohammad era amigo de Ahmed. ;Ele o visitou em sua residência. Estavam sozinhos em um cômodo, ele sacou a pistola e o matou;, comentou. A morte de Ahmed levantou receio sobre a integridade física do presidente. O porta-voz Waheed Omer confirmou à rede de tevê Al-Jazeera que Karzai desembarcou em Kandahar em meio a um forte esquema de segurança. ;Nós sabemos que vivemos em um país perigoso. Nós sabemos que a segurança tem sido rigorosa durante o tempo todo, e o presidente sabe disso;, comentou. A emissora do Catar divulgou ainda que o Serviço Protetor Presidencial, uma equipe de elite, teria sido enviado a Kandahar para vigiar o funeral.
O jornal The Washington Post revelou ontem que autoridades do governo norte-americano aceitam a hipótese de que Sardar Mohammed era uma espécie de ;agente dormente; do Talibã. Em entrevista ao Correio, o ex-chanceler afegão e analista político Najibullah Lafraie lembrou que este não foi o primeiro assassinato político, nem será o último. ;Poucas semanas atrás, o Talibã executou um general do norte do Afeganistão e um chefe de polícia;, comentou.
Najibullah também citou uma série de atentados frustrados contra o próprio presidente. ;Se os talibãs tiverem sorte, eles podem atingir seu alvo;, admitiu. O especialista reconhece que Hamid Karzai teve vários problemas com o irmão e pode respirar aliviado com a eliminação dele. ;Por outro lado, Ahmed Wali era um forte pilar do poder de Hamid no sul.
O presidente deve estar preocupado agora, buscando preencher o vácuo de poder deixado por sua morte;, acrescentou o ex-ministro das Relações Exteriores.
[SAIBAMAIS]
Sarkozy visita tropas e anuncia retirada
A França vai retirar do Afeganistão 25% de seus soldados ; cerca de mil homens ; até o fim de 2012. O anúncio foi feito ontem pelo presidente Nicolas Sarkozy, durante visita-surpresa à base avançada do Exército francês, situada na cidade de Tora, próximo a Cabul. ;É preciso saber terminar uma guerra;, declarou o chefe de Estado. ;Nunca se planejou manter indefinidamente tropas no Afeganistão;, completou. Em Tora, Sarkozy manuseou um colete à prova de balas usado pelos militares do 152; Regimento de Infantaria. A decisão de retirar as tropas no próximo ano foi tomada após o presidente norte-americano, Barack Obama, ter divulgado um plano para repatriar 33 mil soldados até setembro de 2012.