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Funcionário da Scotland Yard também é grampeado por jornal de Murdoch

postado em 13/07/2011 07:52
John Yates, comissário assistente da Polícia de Londres, afirma ter sido espionado entre 2005 e 2006
Nem os chefes da Polícia Metropolitana de Londres, a renomada Scotland Yard, sinônimo de excelência nas investigações, parecem ter escapado da espionagem eletrônica praticada pelos jornais do grupo editorial News International. Um dos comandantes da investigação admitiu ontem, durante declaração ao Parlamento, que pode ter tido o celular grampeado. O escândalo, que chocou o Reino Unido pelo nível de invasão de privacidade de personalidades públicas e cidadãos comuns, ganhou contornos políticos, trouxe à luz um possível esquema de corrupção policial e causou o fechamento do tabloide News of the World. O magnata Rupert Murdoch, dono das publicações investigadas, vai ter de explicar-se ao Parlamento, na próxima semana.

Durante a audiência com os parlamentares, o comissário-assistente da Scotland Yard, John Yates, disse que também teve a privacidade invadida. ;Pelos métodos que eu sei que foram usados, e pelo impacto que isso tem sobre o telefone da pessoa, tenho 99% de certeza de que meu telefone foi grampeado entre 2005 e 2006;, declarou. Ele admitiu que policiais podem estar envolvidos no fornecimento de informações aos jornalistas. No encontro com os parlamentares, Sue Akes, que também é comissária e lidera as investigações, afirmou que apenas 170 entre as 4 mil vítimas dos grampos foram notificadas até o momento. O ex-policial Andy Hayman, que investigou as primeiras denúncias em 2006, também revelou que sua conta de celular foi invadida.

Uma comissão parlamentar convidou o magnata da News International, o presidente da filial em Londres e filho de Murdoch, James, e a diretora-geral do grupo e ex-chefe de redação do News of The World, Rebekah Brooks, para darem explicações sobre o caso em uma audiência prevista inicialmente para a próxima semana. O governo britânico deve apoiar uma petição da oposição trabalhista que impede a compra total das ações do canal de TV a cabo BSkyB pelo grupo News International. O primeiro-ministro James Cameron, do Partido Conservador, deve falar ao Parlamento amanhã, antes da votação final sobre o veto à transação.
[SAIBAMAIS]
Sem escrúpulos
O ex-premiê trabalhista Gordon Brown, que teve o celular grampeado e a conta bancária e o histórico médico de sua família revirados pelos jornais The Sun e The Times, condenou a invasão de privacidade não apenas das pessoas públicas, mas de todos os cidadãos. ;Se eu, com toda a proteção e toda a defesa que um ministro ou primeiro-ministro tem, estive vulnerável a essas táticas inescrupulosas e ilegais, imagine o cidadão comum?;, indagou o político, durante uma entrevista à rede pública de tevê BBC. As investigações indicam que os parentes das vítimas dos atentados de 2005 ao metrô de Londres, uma adolescente desaparecida e assassinada, as famílias de soldados mortos no Iraque e no Afeganistão, celebridades e membros da família real tiveram o celular invadido.

Os tabloides britânicos são conhecidos pela concorrência acirrada e pela corrida atrás de escândalos envolvendo celebridades, mas, segundo Steven Barnett, professor de Comunicação da Universidade de Westminster, a busca pela notícia parece ter passado do limite. ;Existe um crescente senso de indignação entre o público britânico, especialmente quando um tabloide é o primeiro a obter o histórico médico do filho de um político e, ainda pior, quando acha apropriado divulgar a história na primeira página, mesmo que os pais da criança passem por momentos difíceis. É possível que coisas muito piores ainda apareçam, e já há rumores de conexões entre os jornais e o submundo do crime;, disse ao Correio.

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