Renata Tranches
postado em 13/07/2011 08:42
Movido pela retomada do crescimento da Letônia, o primeiro-ministro Valdis Dombrovskis defende a adoção de medidas de austeridade como saída para a crise econômica e financeira que atingiu o país em 2008 e fez a economia se contrair em 25%. Acompanhado por uma delegação de empresários, o premiê encerrou ontem uma visita de quatro dias ao Brasil, onde buscou parcerias para implementar as modestas relações comerciais ; entre os parceiros da Letônia, o Brasil é apenas o 71;, enquanto a Letônia está no 131; lugar no ranking do comércio exterior brasileiro. Em entrevista exclusiva ao Correio, Dombrovskis falou sobre a recuperação de seu país e ensinou: evitar o calote é o único caminho seguro para recolocar um país nos trilhos.
O que pauta as relações entre Brasil e Letônia e qual o principal objetivo da visita?
Basicamente, o principal objetivo foi tentar aumentar a cooperação econômica e política entre os dois países. Visitamos o Rio de Janeiro e São Paulo, com nossa delegação de empresários, e avaliamos algumas oportunidades de negócio. Também estive com o vice-presidente Michel Temer e com os ministro das Finanças e dos Portos, entre outros. Vemos o Brasil como um país ambicioso, que cresce política e economicamente, e também vemos seu maior interesse em trabalhar com regiões que não eram muito visíveis até então. Um dos propósitos de vir até aqui é começar uma negociação sobre o fim da dupla tributação (no Mercosul), o que é importante se quisermos aumentar e melhorar os negócios e a cooperação. Economicamente, a principal ideia é apresentar a Letônia aos exportadores brasileiros como plataforma para a Rússia e o Leste Europeu.
O que a Letônia tem a oferecer?
Temos infraestruturas em excelentes condições, como portos e estradas, além de representações comerciais. Ontem, assinamos um memorando de entendimento para um acordo de cooperação entre os portos de Riga e de Santos. Também pudemos mostrar para grupos específicos, como os produtores e exportadores de sucos, a excelência de nossos terminais para receber e facilitar o acesso desse produto a outros países. Ainda pretendemos dar início a negociações para a possível abertura de embaixadas residentes recíprocas. Atualmente, o Brasil tem embaixada cumulativa em Estocolmo (Suécia) para atender a Letônia, que, por sua vez, tem uma representação em Lisboa (Portugal) para atender o Brasil.
O senhor escreveu, com o economista sueco Anders Aslund, o livro How Latvia came trhough the financial crisis (;Como a Letônia superou a crise financeira;, em tradução livre). O que há de especial nessa experiência?
É claro que fomos afetados e ficamos extremamente preocupados com a crise econômica e financeira. Em três anos, entre 2008 e 2010, tivemos retração de 25% no PIB. Como reflexo, tivemos de fazer um grande ajuste fiscal. Foi um período muito difícil, mas já em 2010 a economia voltou a crescer. Neste ano, esperamos que o PIB cresça entre 3,3% e 4%. Um aspecto muito importante foram as mudanças conduzidas na estrutura da economia, que hoje é mais sustentável e tem maior ênfase na produção industrial e na exportação. Em 2008, fomos pressionados a desvalorizar a moeda. Alguns economistas, inclusive Paul Krugman, chegaram a afirmar que a Letônia era a nova Argentina, mas não somos. Nós pudemos superar os problemas econômicos. Também é importante agir rápido e fazer os ajustes fiscais. Existem as implicações negativas, como aumento de taxas, cortes de salários e de benefícios. Mas, uma vez que você tome essas medidas, para recuperar a confiança do mercado financeiro, a economia vai crescer. A estabilidade financeira é pré-condição para o crescimento.
Muitos países têm sido criticados por adotarem medidas duras de austeridade;
Este é o ponto. É preciso fazer o sistema financeiro desenvolver-se. Não se pode gastar mais do que se pode pagar. É o princípio básico. Para conseguir honrar o deficit do orçamento, o país tem de aplicar medidas de austeridade e reduzir sua dívida.