Agência France-Presse
postado em 18/07/2011 13:03
Londres - O escândalo das escutas telefônicas passa a ser discutido esta semana pelo Parlamento britânico, que ouvirá nesta terça-feira (19/7) o depoimento do magnata das comunicações Rupert Murdoch e, na quarta, o do primeiro-ministro David Cameron. Murdoch, que agora não cansa de pedir desculpas, foi convocado para prestar depoimento diante dos dez membros da Comissão de meios de informação da Câmara dos Comuns, junto de seu filho James e sua protegida, Rebekah Brooks, considerada até sua recente demissão a "rainha dos tablóides".Para realizar esta audiência, a comissão teve de ser rígida: depois de uma primeira negativa de comparecimento dos Murdoch e em meio a fortes protestos, recorreu a um procedimento raramente utilizado, convocá-los oficialmente e de maneira obrigatória. "A última cabeça cortada do escândalo", segundo palavras do Daily Telegraph, é a de Sir Paul Stephenson, chefe da Scotland Yard que se demitiu no domingo, acusado de ter realizado sem aprofundamentos a investigação sobre os vínculos do caso com os dirigentes dos jornais, e de ter ignorado a atuação de policiais corruptos que venderiam informações ao News of the World (NotW).
Um segundo alto oficial da Scotland Yard, John Yates, que recusou a reabertura da investigação sobre o escândalo das escutas telefônicas em 2009, renunciou nesta segunda-feira (18/7), de acordo com um comunicado da polícia.
O jornal que deu origem ao escândalo é acusado de ter grampeado desde o ano 2000 as mensagens de texto de cerca de 4 mil pessoas, políticos e celebridades, mas também de uma menina de 13 anos assassinada. Sir Paul, que afirma ser inocente, pediu demissão deixando para trás uma granada sem pino. Ele reconhece ter remunerado Neil Wallis como consultor, ex-chefe de redação do NotW, mas afirma que não está oficialmente ligado ao escândalo, ao contrário do ex-redator-chefe do jornal Andy Coulson, depois nomeado como diretor de comunicação de Cameron.
Em Pretória, onde realiza uma visita oficial, Cameron teve que se justificar novamente, enquanto que, em Londres, o líder da oposição Ed Miliband afirmou que o primeiro-ministro "se mostra incapaz de assumir a liderança do país". Ele adiou por 24 horas o início das férias parlamentares "a fim de entregar os detalhes da investigação judicial e responder às perguntas" dos deputados. Os três diretores do News Corp intimados pelos deputados afirmaram até agora que ignoravam a amplitude das escutas, atribuídas a um "repórter freelancer" e a um detetive particular.
Grande perda
A audiência significa uma grande perda para o magnata australiano americano de 80 anos, que se orgulha de ter ajudado a eleger a maioria dos primeiros ministros desde os anos 70. "Ele acreditava durante muito tempo que podia usar seus jornais para recompensar ou castigar, mas já não tem esse poder", afirma hoje o seu biógrafo Michael Wolff.
[SAIBAMAIS]Num período de 15 dias, Murdoch fechou o NotW, renunciou a seu ambicioso projeto de aumentar para 100% a sua participação na plataforma de televisão por satélite BSkyB, após o veto de todos os partidos políticos, e sacrificou dois de seus diretores. Ed Miliband exige agora o desmantelamento de seu império na Grã Bretanha, e o vice-primeiro ministro liberal-democrata Nick Clegg pede uma redução de sua influência em nome do pluralismo.
Seu filho James, número três do News Corp e considerado o sucessor do magnata até o escândalo, está agora na linha de frente, apesar de já ter declarado que "lamenta profundamente" ter indenizado generosamente as supostas vítimas de escutas telefônicas, correndo o risco de dar a impressão de que comprou o silêncio delas.
A iniciativa poderia levar a uma acusação de "utilização inapropriada do dinheiro dos acionistas". Ao mesmo tempo, os liberais-democratas desejam que ele seja declarado "inapto" para presidir a BsKyB, empresa que a News Corp possui 39,9% do capital.
Por sua vez, Rebekah Brooks renunciou na sexta-feira à direção do News International, a divisão britânica do império multinacional de Murdoch, e foi detida, interrogada e depois posta em liberdade condicional. Suspeita de suborno de policiais e de escutas telefônicas ilegais, ela pode ir para cadeia. Durante uma primeira apresentação frente à comissão parlamentar, realizada em 2003, reconheceu que o jornal, que dirigiu de 2000 a 2003, pagou a policiais para obter informações.