Agência France-Presse
postado em 19/07/2011 11:47
Londres - O magnata americano das comunicações Rupert Murdoch, ouvido nesta terça-feira (19/7) junto a seu filho por uma comissão parlamentar britânica, negou ser o responsável maior pelo caso dos grampos telefônicos ilegais realizados por um de seus tabloides. Sentado ao lado do filho, James, Murdoch enfrentou os dez deputados da Comissão de Cultura, Mídia e Esporte ressaltando sua postura diante do ocorrido. "Nunca me senti tão humilde em minha vida", afirmou no início da audiência, com transmissão ao vivo da televisão. Ele também se declarou "mais do que disposto" a responder as questões dos deputados. Seu filho em seguida pediu desculpas em seu nome e em nome de seu pai às vítimas dos grampos ilegais. "Lamentamos, particularmente às vítimas e as suas famílias", declarou.
[SAIBAMAIS]Mas quando os deputados começaram a colocar contra a parede o poderoso Rupert Murdoch, dono de um dos maiores grupos de comunicação mundial, sobre a sua responsabilidade no caso das escutas praticadas em grande escala pelo tabloide News of the World, ele saiu pela tangente. Ao deputado que perguntou "aceita reconhecer que é o responsável maior por todo este fiasco", Murdoch respondeu laconicamente: "Não".
Quem é o responsável?, insistiu o parlamentar. "As pessoas em quem confiei e, depois, talvez as pessoas em quem elas confiaram", declarou o magnata. "O News of the World representa menos de 1% de nosso grupo. Eu emprego 53.000 pessoas no mundo, que são grandes profissionais, preocupados com a ética", disse.
Na atmosfera muito concentrada e, por vezes, tensa da audiência, o empresário deixou passar em alguns momentos longos segundos antes de apresentar uma resposta prudente. Ele também se virou em algumas oportunidades para o seu filho por um complemente de resposta ou parecendo em alguns momentos não entender a questão, pedindo que fosse repetida. Mas ele soube se mostrar também muito incisivo, indicando não ter "absolutamente nenhuma prova" de que parentes de vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York teriam sido alvo de grampos, em resposta a uma pergunta sobre a investigação lançada pelo FBI.
Quando um dos deputados da comissão lembrou a ele que Rebekah Brooks, ex-chefe de redação do News of the World, tinha admitido em 2003 que policiais haviam sido pagos em troca de informações, ele respondeu que ficou sabendo agora, mas que "não sabia na época". Ele acrescentou que tinha claramente sido enganado pelos dirigentes de seu grupo.
O deputado trabalhista Tom Watson perguntou a ele se os dirigentes da News Corp. tinham esquecido de informar que os deputados pensavam que o grupo Murdoch sofria de amnésia. A sala explodiu em risadas. James Murdoch assegurou que a News Corp. agiu "da maneira mais rápida e mais transparente possível" quando esteve em posse de novas provas de grampos.
Esta audiência, aberta ao público e transmitida ao vivo pela televisão, é uma das mais importantes já realizadas por uma comissão parlamentar no Reino Unido. É raro que Rupert Murdoch, que está à frente há 80 anos de um dos mais importantes impérios de imprensa do mundo, se manifeste publicamente.
A esposa de Rupert Murdoch, Wendi, estava entre os espectadores. Cerca de 4.000 personalidades podem ter sido vítimas dessas práticas, segundo a polícia.
Os deputados devem ouvir em seguida Rebekah Brooks, ex-"rainha dos tabloides", que foi chefe de redação do News of the World na época dos fatos, e depois diretora do News International.