Agência France-Presse
postado em 19/07/2011 18:39
DAMASCO - Ao menos 50 pessoas morreram nos últimos quatro dias em Homs, terceira maior cidade da Síria, que desde o sábado tem sido cenário de fortes enfrentamentos entre rebeldes e soldados, os primeiros desta magnitude após quatro meses de revolta contra o regime, disseram militantes nesta terça-feira (19/7).Nesta mesma data, outras sete pessoas foram assassinadas pelas milícias leais ao regime, que dispararam contra participantes de funerais, segundo informações do "Comitê de Coordenação da Revolução" que é organizado pelos manifestantes. "Sete mártires caíram e 40 pessoas foram feridas pelas milícias leais ao regime, que chegaram em duas caravanas em frente à mesquita Jaled Ben al-Walid (...) e começaram a disparar contra a multidão que participava dos funerais", indicaram em seu site.
O exército sírio matou treze pessoas entre segunda e terça-feira em Homs, terceira maior cidade do país, que desde sábado é palco de confrontos sectários.
No total, "13 civis morreram ontem e hoje em vários bairros de Homs por disparos do exército, que realiza uma operação nesta cidade", situada 160 km ao norte de Damasco, afirmaram. "Os tiros prosseguem em mais de um bairro em Homs. O clima é tenso. A Segurança e as milícias pró-regime ocupam os bairros, disparam sem discriminação para aterrorizar os moradores", escreveram nesta terça-feira os militantes pela democracia em sua página do Facebook "Syrian revolution 2011".
Confrontos sem precedentes entre opositores e partidários do regime deixaram 30 mortos no sábado e no domingo nesta cidade de maioria sunita, onde coabitam a comunidade alauita - ramo do xiismo à qual pertence o presidente Bashar al-Assad - e a cristã, havia indicado no domingo o chefe do Observatório sírio de Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahmane.
Os confrontos começaram após o assassinato de três partidários do regime, cujos parentes receberam no sábado os corpos destroçados. "Partidários do regime atacaram bairros onde vivem opositores (sunitas). Atacaram e saquearam as lojas", explicou um morador de Homs que não quis se identificar, acusando as partes de "semear a rivalidade sectária para desviar a Revolução de seu objetivo" democrático.
Homs é um dos focos da revolta. Há dois meses, o exército foi enviado para tentar esmagar as manifestações que exigem a queda do regime de Bashar al-Assad, que chegou ao poder em julho de 2000.
Militantes dos direitos humanos acusaram o regime de "estimular as diferenças religiosas". "Os moradores denunciaram os rumores lançados pelos partidários do regime sobre conflitos religiosos. De fato, são os serviços de segurança e o exército que atacam os civis", escreveu Ammar Qorabi, chefe da Organização nacional dos direitos humanos.
De acordo com ele, "as autoridades sírias continuam as operações militares e de segurança em Homs, depois de ter fracassado em sua tentativa de semear diferenças religiosas na cidade, graças ao bom senso dos habitantes de todas as religiões". "Trinta pessoas de todas as religiões morreram no sábado e no domingo e o OSDH expressa sua solidariedade com os habitantes. O plano das autoridades fracassou", afirmou.
Abdel Rahman acusou aos partidários do governo de terem adotado a mesma estratégia nas cidades costeiras de Lataquia, Jableh e Banias, que apresentam certa diversidade religiosa, como todas as cidades sírias em geral.
A comunidade alauita, que desde 1970 tem o controle dos principais cargos do poder, conta com cerca de dois milhões de fiéis na Síria, ou seja, mais ou menos 10% da população, instalados sobretudo no norte do país. Os cristãos (7,5% da população) estabeleceram relações harmoniosas com os alauitas e os sunitas, estes últimos majoritários na Síria.