Mundo

ONGs ignoram proibição e se mobilizam na ajuda aos milhões de famintos

postado em 27/07/2011 08:55
Gaajo. A palavra, que se tornou sinônimo de pesadelo, corrói o estômago de 11,5 milhões de pessoas na Somália. E sai da boca de mulheres desesperadas, que carregam pratos vazios. A pior onda de fome em duas décadas ganhou contornos ainda mais dramáticos depois que o grupo extremista islâmico Al-Shabaab baniu a entrada de agências humanitárias nas regiões devastadas pela seca. ;As Nações Unidas disseram que existe fome na Somália. Isso não é verdade. É uma mentira e estão politizando o tema;, afirmou Ali Mohammud Ragge, porta-voz do Al-Shabaab. A proibição vale para o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud), o Programa Alimentar Mundial (WFP) e a ONG Care.

Em entrevista ao Correio, por e-mail, Rene McGuffin, porta-voz do WFP, explicou que a entidade trabalha com a Coordenação Humanitária da ONU na Somália para alcançar as milícias no sul do país. ;Estamos prontos para fornecer assistência imediata à população, assim como fazemos em outras áreas da Somália, no Quênia, na Etiópia, em Djibuti e em Uganda;, acrescentou. Cerca de 20 organizações não governamentais desafiaram o veto e mantêm os trabalhos em território somali, sob o estrito controle dos islamitas.

Mãe somali carrega o filho com grave desnutrição, em campo de refugiados de Mogadíscio: pedido de socorroSegundo Rene, o WFP depende de acesso seguro às regiões mais afetadas pela estiagem, a fim de colocar em prática os planos de remessa de gêneros alimentícios vitais. ;Nos próximos dias, o WFP vai começar a transportar até Mogadíscio suprimentos nutritivos especiais para crianças desnutridas;, contou. Ele admite que a situação em alguns distritos do sul da Somália é de ;vida ou morte;. ;Os testemunhos de refugiados somalis na Etiópia e no Quênia fornecem clara evidência de grave escassez alimentar e de desnutrição provocadas pela seca, além de insegurança e alta no preço da comida;, afirma o porta-voz. O índice de desnutrição entre as crianças abaixo de cinco anos de idade chega a 50% ; mais de três vezes superior aos níveis de emergência. No último fim de semana, a Cruz Vermelha conseguiu distribuir cerca de 400t de alimentos à população ;com total transparência; e exercendo o absoluto controle da operação.

Sucesso
Desde 2006, o programa da ONU de Metas do Desenvolvimento do Milênio conseguiu tirar cerca de 15 milhões de africanos da fome. Pedro Sánchez, diretor do Departamento de Ambiente Rural e de Agricultura Tropical do Earth Institute (na Columbia University), explica que os moradores da África Subsaariana enfrentam uma situação de extrema vulnerabilidade. Além do fato de a região ser desértica, a tradição do pastoreio nômade transforma a estiagem em sinônimo de fome. ;Os somalis, principalmente, vivem o que chamamos de fome aguda, definida por uma enorme perda de peso nas crianças e pela morte por desnutrição;, comenta, por telefone, de Washington. Ao menos 10% da população de famintos da África Subsaariana sofrem dessa condição. Ele defende uma mudança de cultura apoiada por ações governamentais. ;As pessoas que vivem nessas áreas precisam abandonar o pastoreio e buscar dinheiro para obter alimentos. As soluções passam pelo desenvolvimento, pela infraestrutura e pelo estímulo de um contato maior com o Quênia e com a Etiópia;, observa.

[SAIBAMAIS];Nós precisamos agir agora para impedir que as pessoas morram;, disse ao Correio o espanhol Fran Equiza, diretor regional da organização não governamental Oxfam para o Chifre da África e a África Central. Segundo ele, a entidade está providenciando água potável na Somália, no Quênia e na Etiópia, ao instalar poços artesianos e ao disponibilizar caminhões-pipa. Paralelamente às campanhas de promoção da saúde, a equipe de Fran presta serviços veterinários na zona rural. ;Os animais, que são a principal fonte de renda, estão morrendo aos montes;, lembra. Por meio de projetos conhecidos como ;dinheiro por trabalho;, a Oxfam paga às pessoas para que realizem trabalhos em prol de sua própria comunidade, incluindo a construção de latrinas e de barragens.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação