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Uma semana após massacre, Noruega enterra seus primeiros mortos

Agência France-Presse
postado em 29/07/2011 16:54
Oslo - A Noruega enterrou nesta sexta-feira as primeiras das 77 vítimas que morreram no massacre ocorrido há uma semana pelo extremista Anders Behring Breivik, que será examinado em breve por dois especialistas psiquiátricos para determinar se ele é penalmente imputável. Morta aos 18 anos na matança de jovens trabalhistas na ilha de Utoeya, a jovem de origem curda Bano Rashid teve sua cerimônia celebrada por uma pastora e por um imã na pequena igreja de Nesodden, cidade banhada pelos rios do fjord de Oslo.

A adolescente de cabelos longos e castanhos tinha fugido do Iraque para a Noruega com sua família em 1996 acreditando enfim estar a salvo da violência. Politicamente engajada, ela sonhava em chegar ao Parlamento. "Bano entendia os ideais da democracia e sabia que o futuro da Noruega também dependia dela", disse o chefe da diplomacia, Jonas Gahr Stoere, em sua homenagem à jovem. Ela é uma das 69 pessoas, em sua maioria jovens, que morreram no tiroteio na ilha de Utoeya.

[SAIBAMAIS]Também originário de uma minoria étnica, Ismail Haji Ahmed, de 19 anos, também teve a sua vida interrompida brutalmente por Behring Breivik. Assim como Bano, Ismail foi enterrado nesta sexta. "Bano é norueguesa. Ismail é norueguês. Eu sou norueguês. Nós somos a Noruega e tenho orgulho deles", disse o primeiro-ministro Jens Stoltenberg durante uma cerimônia organizada em uma mesquita de Oslo, como uma forma de rejeitar o discurso sectário do assassino.

Também membro do Partido Trabalhista e alvo de Behring Breivik há uma semana, Stoltenberg foi muito elogiado por sua gestão da crise, com suas declarações pregando a tolerância e sua onipresença ao lado das vítimas e de seus cidadãos.

Apresentando-se como um cruzado em meio a uma guerra contra uma "invasão muçulmana" na Europa, Behring Breivik, de 32 anos, assumiu a autoria da matança de Utoeya e do atentado a bomba que atingira poucos minutos antes a sede do governo, deixando oito mortos. O registro oficial foi revisado nesta sexta-feira para 77 mortos, número que inclui a morte de um ferido que não tinha sido anunciada até então.

Para determinar se pode ser submetido à Justiça, Behring Breivik será examinado por dois psiquiatras que começarão seu trabalho em uma semana e que deverão apresentar suas conclusões "até o dia 1; de novembro", declarou o procurador da polícia, Paal-Fredrik Hjort Kraby. "Vamos deixar os profissionais decidirem", disse durante uma entrevista coletiva à imprensa.

Nesta semana, o advogado de Behring Breivik, Geir Lippestad, considerou que "todo este caso sugere que ele é insano". Colocado em detenção provisória em uma prisão de segurança máxima, Behring Breivik foi interrogado pela segunda vez nesta sexta-feira na sede da polícia de Oslo, onde ele chegou em um carro blindado com os vidros cobertos de plástico para protegê-lo das lentes das câmeras. Para os investigadores, é cada vez mais provável que ele tenha agido sozinho como ele mesmo afirmou, embora tenha mencionado a existência de "duas outras células na Noruega" e "várias células no exterior".

Em uma entrevista concedida esta semana à AFP, a diretora do Serviço de Segurança da Polícia (PST), Janne Kristiansen, o taxou de "lobo solitário". Aquele que Behring Breivik descreveu como "seu mentor", o britânico Paul Ray, denunciou nesta sexta-feira em uma entrevista ao Times os ataques sangrentos do norueguês que ele classificou de "verdadeiramente diabólicos".

Segundo seu advogado citado nesta sexta-feira pelo jornal Aftenposten, Behring Breivik planejava outros ataques no dia 22 de julho, mas eles não foram praticados por razões que Lippestad não revelou. Bandeiras a meio mastro, ruas repletas de flores, inscrições "Oslove"... Uma semana após o drama, a Noruega permanece em choque pelos piores ataques cometidos no país desde a Segunda Guerra Mundial. "Não vamos nos lembrar de nossos mortos com dor. Vamos lembrá-los com sorriso", declarou o líder da juventude trabalhista, Eskil Pedersen, que também estava em Utoeya no momento do ataque.

Atendendo a pedidos para que não aplaudisse, as pessoas que foram à cerimônia agitaram rosas, símbolo do partido e, depois da sexta-feira passada, das vítimas do massacre.

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