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Ramadã começa no mundo árabe e traz incertezas quanto aos protestos

Agência France-Presse
postado em 01/08/2011 14:58
Dubai - Os muçulmanos dos países árabes encaram o Ramadã com uma pergunta: o sagrado mês de rigoroso jejum será a oportunidade de se ter um alívio na "Primavera Árabe" ou dará margem para que se revigorem os protestos? O primeiro Ramadã desde que tiveram início as revoltas nos países árabes, em janeiro deste ano, começa em agosto e alguns não duvidam que o período estimulará ainda mais os jovens que protestam em Líbia, Síria, Iêmen e outros países.

"Na história muçulmana, o Ramadã é frequentemente marcado por revoltas e vitórias", recorda Abdullah al-Amadi, responsável pelo site Islamonline. "Acredito que os jovens da Primavera Árabe irão se inspirar para ter ainda mais força na luta contra a injustiça e a tirania", analisa. Para ele, as manifestações serão mais fortes especialmente nos últimos 10 dias do mês, que são ainda mais sagrados.

O Ramadã, ou mês da piedade, é também definido por inúmeros muçulmanos como o mês do esforço e sacrifício, o que pode motivar ainda mais os manifestantes. As autoridades sírias temem em particular as orações noturnas nas quais os fiéis lotam as mesquitas durante todo o Ramadã, o que pode aumentar os protestos.

[SAIBAMAIS]Desde o começo da revolta síria, em meados de março, os ativistas se reúnem em geral na saída das mesquitas, em especial nas sextas-feiras, dia da principal oração semanal. Na Síria existem mais de 10 mil mesquitas que todas as noites recebem uma quantidade considerável de fiéis, manifestantes em potencial. Os Comitês de Coordenação da Revolução Síria esperam que isso aconteça. "O regime está aterrorizado com o Ramadã e as orações noturnas de Tarawih", lê-se na página do Facebook "Syrian Revolution 2011".

Na Líbia, os que tomaram as armas contra o regime de Muamar Kadhafi esperam o Ramadã com um sentimento de grande determinação, ainda que encarem com apreensão os novos combates. "Se ficarmos cansados na guerra, comeremos. Se ficarmos em posição defensiva, jejuaremos. Deus está conosco", afirmou Hatem Aljadi, um rebelde de 24 anos que combate na frente de Gualish, no sul de Trípoli.

No Iêmen, onde o movimento de protesto iniciado em janeiro perdeu força devido a divisões na oposição e a incerteza sobre as reais intenções do presidente Ali Abdullah Saleh, hospitalizado em Riad desde um ataque em junho, nada pode prever como irão se desenrolar os acontecimentos. Mas os jovens manifestantes que ainda acampam em Sana se mostram determinados a retomar o movimento durante o Ramadã. "Este será o mês da mudança, ainda mais porque Ali Abdullah Saleh não está no Iêmen", acredita Walid al Omari, um dos porta-vozes do movimento. Em outros países, as autoridades tomaram o cuidado de controlar os preços e garantir um bom estoque nos mercados para não frustrar a população neste período de grande consumo.

No Egito, o Governo adotou medidas para manter o custoso sistema de subsídios e assim garantir preços baixos a certos produtos básicos, como o pão. Na Arábia Saudita, ainda que muito pouco afetada pela onda de protestos, o Ministério do Comércio impôs aos produtores de leite que desistissem de aumentar os preços. O Governo decidiu ainda subsidiar a metade o preço da cevada importada para impedir um aumento do preço da carne, enquanto que nos Emirados Árabes Unidos as autoridades ordenaram vender o arroz pela matede do preço às famílias.

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