postado em 02/08/2011 09:29
O vice-premiê e ministro de Assuntos Estratégicos de Israel, Moshe Ya;alon, desembarcou ontem em Brasília na esperança de convencer o governo brasileiro a rever sua posição favorável ao reconhecimento da Palestina pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro. Teve encontros com o chanceler Antonio Patriota e com o vice-presidente Michel Temer, e expôs a ambos sua preocupação com a influência do Irã na América Latina. Em entrevista exclusiva ao Correio, o número dois do governo israelense disse que espera contar com o apoio do Brasil, e insistiu em que negociações diretas entre Israel e palestinos são a única forma de chegar à paz.Como Israel está lidando com a possibilidade do reconhecimento do Estado palestino na ONU, em setembro?
Nós acreditamos que o pedido, seja no Conselho de Segurança ou na Assembleia Geral ONU, vai ser um erro tremendo. Nós já chamamos Mahmud Abbas (presidente palestino) para vir à mesa de negociação e estamos esperando há quase dois anos. Ele tem precondições e resolveu agir unilateralmente. A resolução pode ser o fim de uma negociação política. Se o pedido for aceito pelo conselho, o que não acreditamos que aconteça, pode ser aberto um caminho para hostilidades na Cisjordânia. Já temos uma situação como essa na Faixa de Gaza. Uma das questões que eu devo discutir com o governo brasileiro são justamente as concepções sobre o conflito entre israelenses e palestinos. Não é apenas uma questão territorial e sobre as fronteiras de 1967. Se fosse esse o caso, teríamos conseguido um acordo em Annapolis ou em Camp David. O problema é a relutância em reconhecer o nosso direito de existir como uma nação e um Estado judaicos.
É possível fazer uma negociação direta sem levar a questão à comunidade internacional?
Absolutamente. Nós apertamos as mãos e até assinamos acordos, que acabaram sendo rompidos no dia seguinte, mas o processo continuou e tentamos fazer algum progresso, mesmo quando não existia negociação. Como nas relações econômicas: não existe uma economia palestina válida e não adianta contar apenas com doações. É preciso fazer crescerem os negócios e o comércio. E tentamos fazer isso. Eles têm independência política, um parlamento. Está nas mãos deles decidir o que farão agora. A situação, no entanto, não vai mudar de uma hora para outra. Se formos forçados a sentar-nos à mesa com eles, temos três perguntas: vocês estão prontos para nos reconhecer como nação? Vão fazer algum compromisso territorial? E como tratarão das nossas necessidades de segurança?
Israel pode contar com o apoio do Brasil para que as negociações não cheguem até a ONU?
Espero que sim. Eu acredito que nós temos canais de abertura com o governo brasileiro para discutir isso, e é algo que deve ser considerado.
Como as relações com o Brasil podem ser mais desenvolvidas?
Nossa relação bilateral com o Brasil é muito importante. Estou aqui com a mensagem de que podemos melhorar ainda mais. Temos interesses e valores em comum e podemos desenvolver mais áreas, como economia e segurança. Podemos compartilhar a experiência dos dois países na defesa de fronteiras, em ações contra o terrorismo e o narcotráfico. Ainda que tenhamos algumas diferenças no cenário internacional, podemos melhorar, e devemos discutir isso também. Uma dessas questões é o envolvimento negativo do Irã no Oriente Médio e as conexões aqui na região, com a Venezuela, que podem ter um efeito internacional.
O senhor acredita que, no governo da presidente Dilma Rousseff, a política do Brasil em relação ao Irã teve alguma mudança?
Nós esperamos que sim. Nós vemos o Irã como uma ameaça nuclear e de terror. Eles demonstram apoio a alguns elementos que trazem instabilidade para o Afeganistão, e esse também é o caso no Iraque e no Líbano, com o Hezbollah. Ele compram armas, dão dinheiro, treinamento e direções políticas. E com isso desestabilizam a região. Também é o caso com o Hamas e a Jihad Islâmica palestina. Nós sabemos da influência do Irã na América Latina.
A comunidade internacional precisa tomar medidas ou novas sanções contra o Irã?
Sim. Nós acreditamos que, de uma forma ou de outra, o Irã tem um plano de militar nuclear, e não precisamos disso. Podemos interferir de uma forma política e econômica, e não de maneira militar. O mundo deve se unir para isolar politicamente o país e colocar as sanções econômicas em prática. Eles devem ser parados. Se o Irã tiver uma arma nuclear, será um pesadelo não só para Israel. Nós somos um alvo pequeno. Eles estão focalizando a América ; não só os Estados Unidos, mas todo o continente.
O Oriente Médio está passando por mudanças desde a Primavera Árabe. Que tipo de impacto isso deve ter na região?
Sem dúvida, é um momento histórico. Esperamos que seja uma Primavera Árabe, não um inverno. De um lado, temos os mais jovens, que pedem liberdade e democracia, como vimos no Egito e na Tunísia, e agora na Síria. Por outro lado, não existe uma liderança no movimento. Por isso, hoje é possível haver uma situação em que os radicais explorem esse momento e imponham o islã. Como acontece no Egito, com a Irmandade Muçulmana. Nós devemos estar cientes desses desafios. Os países ocidentais devem servir de moderadores para encorajar os movimentos democráticos.
Aceno de Netanyahu
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, acenou pela primeira com a possibilidade de negociar as fronteiras de um Estado palestino com base nas fronteiras anteriores à guerra de 1967, de acordo com a fórmula proposta pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama ; e rejeitada por Netanyahu durante visita a Washington. A proposta foi apoiada por União Europeia, Rússia e ONU, como alternativa ao pedido unilateral de reconhecimento da Palestina.