Agência France-Presse
postado em 02/08/2011 13:16
KASHGAR - A recente onda de violência na região chinesa de Xingjiang ilustra as divisões entre os uigures, muçulmanos de língua turca, e os imigrantes da etnia han, majoritária na China, que temem por sua segurança.A situação na cidade de Kashgar, onde a destruição do bairro antigo simboliza a perda de identidade dos uigures diante da política de desenvolvimento econômico e aculturação de Pequim, continuava muito tensa nesta terça-feira, após os ataques com arma branca e a repressão policial que deixaram 21 mortos no último fim de semana.
Zhang Ming abandonou recentemente sua província, no centro da China, para radicar-se lá, a milhares de quilômetros, na parte mais ocidental da China.
Esta mulher de 34 anos previa abrir um restaurante em Kashgar, uma das regiões mais pobres do país, mas diz não se sentir segura, sobretudo depois de um ataque a facadas no último sábado em um mercado próximo ao seu bairro, no qual morreram oito pessoas.
"Lá fora é muito instável, não é seguro", explica à AFP, sentada dentro de casa. "Por isso, os negócios não vão bem. Espero que as coisas se normalizem com rapidez, já que pretendemos abrir o restaurante na semana que vem", acrescenta.
Zhang afirma ter decidido se mudar para Kashgar vindo da província de Henan há alguns meses, após descobrir que o governo havia convertido a cidade em zona especial de desenvolvimento econômico e concedia incentivos fiscais.
Os han, como ela, principal grupo étnico da China, passaram de 6% da população, outrora majoritariamente muçulmana, a 40% do total.
Alguns uigures afirmam ser vítimas de discriminação religiosa e cultural por parte dos han sob a desculpa da luta contra o "terrorismo", e acusam Pequim de não respeitar seu modo de vida, nem sua cultura.
Em Kashgar, perto da fronteira com o Kirguizistão, os uigures representam 82% da população.
"Olhem os han e os uigures: quem são os ricos e quem são os pobres?", pergunta um jovem, que considera, como muitos outros uigures, que a política governamental é injusta com eles.
"Alguns uigures vão para a universidade em Uruqmi (a capital regional), voltam diplomados e não encontram trabalho. Os empregos são para os han. E quando os uigures conseguem trabalho, cobram salários mais baixos", disse.
Os trabalhadores han, que costumam vir por uns anos para ganhar dinheiro, também afirmam estar cada vez mais preocupados pelos ataques em plena cidade, num momento em que lojas fecham e há um toque de recolher por estes motivos.
Ye, um artesão de 32 anos originário de Xian, no norte da China, pensa que "a situação piorou nestes últimos anos".
Na terça-feira, policiais prosseguiam com o patrulhamento da cidade, como é normal acontecer em Kashgar.