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Mubarak: um ex-ditador entre o hospital e o tribunal

Agência France-Presse
postado em 03/08/2011 18:58
CAIRO - Hosni Mubarak, que começou a ser julgado nesta quarta-feira por denúncias de corrupção e pela responsabilidade na morte de manifestantes, governou o Egito durante três décadas até ter que abandonar o poder em fevereiro passado, após uma mobilização popular contrária a seu governo sem precedentes na história recente do país.

Fotos recentes suas, que mostravam o ex-presidente visivelmente bem para seus 83 anos, foram retiradas dos edifícios oficiais, e os vendedores da Praça Tahrir, epicentro dos protestos na capital egípcia, vendem hoje caricaturas de um ex-presidente com a fisionomia abalada.

No julgamento desta quarta-feira, o ex-presidente egípcio e seus filhos Alaa e Gamal se declararam inocentes no Tribunal Penal do Cairo. Pouco depois, o tribunal adiou o processo para 15 de agosto.

O presidente do tribunal, Ahmed Rafaat, ordenou que o ex-presidente egípcio permaneça em um hospital próximo do Cairo até a próxima audiência.

Os filhos de Mubarak são julgados pelas mesmas acusações do ex-presidente.

Poucos se atreveram a apostar na permanência no poder deste homem sem grande carisma que em 1981 sucedeu Anuar al-Sadat, assassinado por islâmicos.

Contudo, Mubarak, ex-comandante da Força Aérea, conseguiu manter a estabilidade do Egito, e a de seu poder, utilizando um sistema acusado de asfixiar a vida política.

Ele também se opôs fortemente ao islamismo radical inspirado na Al-Qaeda, apesar de não ter conseguido impedir o fortalecimento de um sistema islâmico tradicionalista inspirado pelo influente movimento da Irmandade Muçulmana.

Pragmático, manteve contra o vento e a maré o posto de seu país no campo favorável aos Estados Unidos e preservou os acordos de paz com Israel de 1979, que custaram a vida de seu antecessor.

O liberalismo econômico, que se acentuou nos últimos anos, permitiu desenvolver setores econômicos como as telecomunicações e a construção civil, mas quase 40% dos 80 milhões de egípcios continuavam vivendo com menos de dois dólares diários, segundo estatísticas internacionais. A corrupção ainda é outro mal endêmico do país.

A crescente influência econômica e política de seu filho mais novo, Gamal, alimentava as suspeitas sobre planos de uma transmissão "hereditária" do poder na eleição presidencial de setembro de 2011.

O advogado do ex-presidente, Farid al-Dib, alega que o cliente está muito enfermo para ser julgado e que não autorizou a repressão.

Al-Dib afirmou que Mubarak sofre de câncer e disse que na semana passada ele estava em coma, o que foi negado pelo hospital. Um de seus médicos afirmou à AFP que o ex-presidente se encontra em situação relativamente estável, mas frágil, já que se recusa a aceitar alimentação, e deprimido.

Mubarak deixou o hospital de Sharm el-Sheikh, onde cumpria a prisão preventiva desde abril em consequência de problemas cardíacos.

Diante do tribunal, centenas de pessoas, incluindo parentes de vítimas da repressão, acompanhavam em silêncio a audiência, que contou com um forte esquema de segurança.

Durante sua longa carreira, Hosni Mubarak escapou de pelo menos seis tentativas de assassinato, mas jamais chegou a declarar estado de emergência no país.

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