Agência France-Presse
postado em 04/08/2011 14:56
Culiacán - Os moradores de Sinaloa, noroeste do México, bastião dos principais chefões mexicanos das drogas, não têm medo de cantar e ouvir os narcocorridos nas ruas, cantinas e restaurantes desafiando a recente proibição oficial para a divulgação destas músicas."Somos sanguinários, muitos loucos. Gostamos de matar", toca no volume máximo uma música que sai de uma caminhonete em um posto de gasolina de Culiacán.
Este gênero musical, cujas letras narram façanhas de narcotraficantes, suas aventuras, amores e confrontos com policiais e militares, se transformaram em uma crônica popular da luta contra o narcotráfico no México. "Com ou sem narcocorridos, a violência não vai parar", disse um cantor.
Vestidos com roupas de vaqueiro, dezenas destes músicos chegam todas as noites a uma rua do centro de Cualiacán, capital de Sinaloa. Este estado, terra de Joaquín "Chapo" Guzmán, considerado o chefão da quadrilha mais poderosa segundo a revista Forbes, proibiu em maio a difusão dos narcocorridos em lugares que vendem álcool. Até agora, 36 deles foram fechados.
A medida tenta evitar a "apologia ao crime" e reduzir o número de assassinatos, explicou à AFP, Gerardo Vargas Landeros, secretário de governo do Estado banhado pelo Pacífico, um dos três mais violentos do México, que teve 2.505 homicídios registrados em 2010.
Conforme a violência se intensificava, o gênero musical ganhou uma nova corrente chamada Movimento Alterado, cujo conteúdo mais forte chamou a atenção das autoridades e de especialistas. "Começamos a ver uma mudança no narcocorrido para a hiperviolência, eles começaram a falar de decapitados e esquartejados", explica Juan Carlos Ramírez-Pimienta, da Universidade Estatal de San Diego, Califórnia, e autor do livro "Cantar as narcos".
O Movimento Alterado nasceu na internet pouco depois de o presidente Felipe Calderón ter lançado, em dezembro de 2006, a ofensiva militar contra os cartéis. São atrubuídas à ofensiva mais de 41 mil mortes desde então.
Com camisas estampadas com rifles, grandes botas e cintos, os cantores do narcotráfico usam jóias valiosas, feitas em ouro, em formato de armas, cravejadas de pedras preciosas. Suas músicas estão em todos os lugares.
"A produção de narcocorridos é imensa, o número de bandas é impossível de se calcular", indica o acadêmico Ramírez Pimienta. Para Pimienta, os narcocorridos estabelecem uma versão não-oficial da luta contra as drogas. "O que acontece é que o Estado mexicano não é um narrador confiável, alguns de seus relatos de guerra são tão fantasiosos como qualquer um dos narcocorridos", explica.
Para além de Sinaloa, os narcorridos são populares no norte do México e cruzaram a fronteira com os Estados Unidos, tornando Los Angeles "o epicentro dos narcocorridos", considera o acadêmico. Lá, o grande público são os migrantes, gente alheia ao crime, mas que se identifica com os valores do anti-herói. A música cativa os migrantes, que compensam assim seu medo da autoridade que os persegue, conclui o especialista.