Roma - A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) pediu nesta sexta-feira (5/8) uma intervenção "de grande envergadura" para combater a fome no Chifre da África. Três regiões ao sul da Somália e demais regiões da parte meridional do país vivem uma situação de emergência humanitária que provocou a morte de milhares de pessoas, segundo comunicado da FAO publicado em Roma.
A advertência é de que a fome deve se propagar a todas as regiões do sul nas próximas quatro a seis semanas e, provavelmente, durará até dezembro de 2011. A ONU considera uma situação de fome quando mais de duas pessoas de cada 10.000 morrem por dia e quando a desnutrição aguda supera 30%. "Atualmente, a vida e os meios de existência de 12,4 milhões de pessoas correm perigo na Somália, Djibuti, Etiópia e Quênia", afirma a FAO.
A ausência de chuva na África do Leste ameaça quase 12 milhões de pessoas, segundo as Nações Unidas. No total, 564.000 delas podem morrer sem uma intervenção rápida, de acordo com a ONU e a ONG Oxfam. A crise humanitária pode se ampliar também geograficamente. A FAO já havia advertido na terça-feira que Uganda começa a ser afetada pela seca e a insegurança alimentar.
A situação é particularmente crítica na Somália pela dificuldade, ou até mesmo impossibilidade, de acesso às zonas controladas pelos rebeldes islamitas shebab, que desde 2009 proíbem o acesso das agências humanitárias da ONU e das ONGs internacionais a seu território. A fome se estendeu a três novas regiões do sul da Somália, informou na quarta-feira a Unidade de Análise da ONU para a Segurança Alimentar e Nutrição (FSNAU, siglas em inglês). Estas novas regiões incluem duas zonas para as quais fugiram milhares de somalis em busca desesperada de alimentos. "A fome está presente. As três zonas são o assentamento de deslocados do corredor de Afgoye, a comunidade de deslocados de Mogadíscio - nos sete distritos da cidade - e os distritos de Balaad e Adale em Middle Shabelle", afirmou Grainne Molony, chefe da FSNAU na Somália.
As Nações Unidas declararam crise de fome no mês passado nas regiões de Bakool e Baixa Shabelle, no sul da Somália, devido à prolongada seca no Chifre da África. Até 409.000 somalis estão registrados na zona do corredor de Afgoye, o maior acampamento de deslocados do mundo, afirmou Moloney.
No início da semana, a ONU alertou que a fome no Chifre da África, que já matou milhares de pessoas, poderá em breve se espalhar para seis outras regiões. Crianças e adultos subnutridos estão morrendo enquanto caminham para campos de refugiados e 1,4 bilhão de dólares são necessários para conter a fome que está fora do controle, afirma Valeria Amos, secretária-geral de crise humanitária da ONU.
Em torno de "12,4 milhões de pessoas em Quênia, Etiópia, Somália e Djibuti necessitam de ajuda e a situação está piorando", disse Amos em comunicado à imprensa. Ela pediu uma "resposta sólida" para parar a ampliação da crise.
Em torno de 1 bilhão de dólares já foram prometidos pela comunidade internacional, mas Amos afirma que as Nações Unidas "precisam urgentemente de 1,4 bilhão de dólares para salvar vidas".
Em torno de 3,7 milhões de pessoas na Somália, 4,5 milhões na Etiópia, 3,7 milhões no Quênia e centenas de milhares em Djibuti precisam de ajuda, informou a secretária da ONU.
A ONU não tem uma cifra específica das mortes causadas pela fome por conta das dificuldades em obter informações de regiões remotas da Somália, muitas das quais são controladas por insurgentes islâmicos em conflito com o governo.