Mundo

O maior poeta árabe vivo pede a saída do presidente Assad

Agência France-Presse
postado em 05/08/2011 18:05
CIDADE DO KUWAIT - O maior poeta vivo de língua árabe moderna, o sírio Adonis, fez um apelo à demissão do presidente Bachar Al-Assad, pedindo, ao mesmo tempo, que a oposição adote uma ideologia estritamente laica.

"O presidente Assad deve fazer alguma coisa. Se estivesse em seu lugar, deixaria o poder", afirmou Adonis em entrevista publicada nesta sexta-feira no jornal Al-Ra;, do Kuwait, e concedida em Beirute.

"O mínimo que ele poderia fazer é sair", acrescentou.

O poeta já havia pedido em carta aberta, em junho, que o presidente parasse com a repressão sangrenta na Síria "submetendo-se à decisão do povo".

O intelectual, nascido Ali Ahmad Sa;d Esber, é autor de numerosas obras de poesia e crítica literária, escritas em árabe e em francês. Faz parte da minoria alauíta, no poder na Síria.

Adonis aproveitou, também, a entrevista, para denunciar a oposição síria, dominada por grupos religiosos, preconizando para o país o estabelecimento de um Estado laico, com a separação dos poderes religioso e político.

Ele é considerado, hoje, o maior poeta árabe vivo. Seu pseudônimo refere-se ao deus de origem fenícia, símbolo da renovação. Nasceu em 1930, numa aldeia nas montanhas do norte da Síria. Aos 12 anos, declamou seus versos em praça pública, seduzindo a multidão. As autoridades decidiram, então, conceder-lhe uma bolsa de estudos, no liceu francês de Tartous.

Obteve a licenciatura em filosofia na universidade síria de Damasco, em 1954.

Sua coletânea ;Cantos de Mihyar, o Damasceno; foi lançada em 1961, com tradução para o francês, alguns anos depois, o que marcou para Adonis o início de seu reconhecimento mundial.

Foi preso em 1955, por pertencer ao então Partido Popular Sírio, que defendia a expansão do país no Oriente Médio, fugindo logo em seguida para Beirute. Na capital libanesa, em 1957, fundou com o poeta sírio-libanês Youssouf al-Khal, a revista Chi;r (Poesia), que se propunha a libertar a criação literária árabe dos grilhões e abri-la a influências estrangeiras.

A revista Mawâkif (Posições), que fundou em 1968, como um espaço de liberdade, foi logo proibida no mundo árabe.

Traduziu Baudelaire, Henri Michaux e Saint-John Perse para o árabe e Aboul Ala el-Maari para o francês, sempre procurando a renovação da poesia árabe contemporânea, partindo de seu passado glorioso, mas também observando a riqueza da poesia ocidental. Em 1980, logo após a guerra civil libanesa, deixou o Líbano, refugiando-se em Paris.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação