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Sírios protestam na primeira sexta-feira do Ramadã; repressão tem 14 mortos

Agência France-Presse
postado em 05/08/2011 20:13
DAMASCO - Milhares de sírios saíram às ruas nesta sexta-feira, a primeira do mês do Ramadã, pedindo apoio à comunidade internacional e gritando "Deus está conosco", enquanto a repressão aos protestos por parte do regime deixou pelo menos 14 mortos perto de Damasco e em Homs.

A agência de notícias oficial Sana informou sobre uma emboscada no noroeste do país, na qual perderam a vida dois membros das forças de segurança.

"Trinta mil manifestantes participaram de uma marcha em Deir Ezzor (leste) e outros milhares em Deraa (sul) e Qamechli (nordeste) para apoiar a cidade de Hama (centro)", declarou à AFP Abdel Karim Rihaui, presidente da Liga Síria de Direitos Humanos.

"Mais de 12 mil pessoas desfilam no território de Idleb (noroeste) para reivindicar a queda do regime e expressar seu apoio a Hama e Deir Ezzor", acrescentou, por sua vez, Rami Abdel Rahmane, presidente do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

"Centenas de pessoas saíram da mesquita Al-Mansuri, em Khableh (oeste), gritando ;Deus está conosco!'", acrescentou.

A agência Sana informou que "bandos armados instalaram blitzes, interromperam estradas e revistavam pessoas em Deir Ezzor", sitiada pelo exército há dois dias.

Em Homs (centro), "homens armados abriram fogo indiscriminadamente no bairro de Bab al Sibaa e dispararam contra um controle das forças de ordem em Bab Dreib", também segundo a agência.

A repressão deixou pelo menos 14 mortos na sexta-feira, segundo ativistas de direitos humanos.

"As forças de segurança abriram fogo para dispersar manifestantes na região de Damasco e Homs", assegurou Rahmane.

"Sete pessoas morreram em Irbine, outra em Maadamiya (ambas perto de Damasco) e duas em Damir", acrescentou Rahmane, assegurando que houve "mais de 50 feridos, alguns gravemente, entre os manifestantes" e outros três mortos em Homs.

"Um homem com sinais de tortura apareceu morto em frente à sua casa em Qaboune (bairro de Damasco)", informou o presidente do OSCDH, acrescentando que a vítima "foi detida pelos serviços de segurança".

Os manifestantes sírios lançaram, como em todas as sextas-feiras, na página do Facebook "Syrian Revolution 2011" uma convocação de protestos com o lema "Deus está conosco. E você?".

As marchas também foram dedicadas a Hama, cidade rebelde onde o Exército lançou uma ampla ofensiva que deixou mais de cem mortos no domingo.

Na sexta-feira, Hama continuava isolada, pois as autoridades bloquearam os meios de comunicação para combater os "bandos terroristas armados", aos quais atribuem os distúrbios desde o início, em meados de março, de uma revolta popular sem precedentes.

Na quinta-feira, um morador que havia fugido da cidade, disse à AFP que "cerca de 30 corpos de pessoas mortas no bombardeio do exército na quarta-feira foram enterrados em vários jardins públicos".

Ele também assegurou que havia "carros de combate mobilizados na cidade" e "franco-atiradores posicionados nos telhados de hospitais privados".

Segundo Rahmane, radicado na Grã-Bretanha, mais de mil famílias deixaram Hama.

Os meios sírios asseguraram que "dois membros das forças de ordem perderam a vida e outros oito ficaram feridos em uma emboscada de homens armados na estrada de Maarrat a Noomane e Jan Chaykhune, na região de Idleb", informou a agência Sana.

Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, 2.038 pessoas, inclusive 389 militares e agentes de segurança, morreram na Síria desde o levante de 15 de março. Ali Ahmad Said Esber, um dos poetas árabes vivos mais importantes e conhecido pelo apelido ;Adonis;, pediu a saída de Assad. "Se estivesse no seu lugar, deixaria a presidência", afirmou a um jornal do Kuwait este escritor sírio, radicado em Beirute.

No campo diplomático, crescem as críticas ao regime sírio. A Casa Branca assegurou que já "pensa na era posterior a Assad, como já fazem 23 milhões de sírios", enquanto o presidente russo, Dimitri Medvedev, cujo país se opôs à adoção de uma resolução na ONU, qualificou a situação da Síria de "dramática" e expressou "uma inquietação enorme".

O Kuwait apelou ao diálogo e a "verdadeiras reformas" e pediu a Damasco que ponha um fim à repressão, que a Turquia considerou "inaceitável" nesta sexta-feira.

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