Renata Tranches
postado em 06/08/2011 08:00
Na primeira sexta-feira do Ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos, dezenas de milhares de pessoas foram às ruas de diversas cidades sírias em um desafio à violenta repressão do regime de Bashar Al-Assad, que tenta controlar os protestos à mão de ferro. Em Hama, ocupada por tanques das forças do governo, civis relataram ao menos 15 mortos e ao menos 20 feridos ; sete gravemente. Segundo ativistas, as baixas no país podem passar de 2 mil desde o início do levante, em março. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, disse que Al-Assad ;perdeu a legitimidade;.Hama converteu em um centro do movimento antigoverno e tem sido castigada duramente com incursões militares nos últimos dias. A cidade está praticamente isolada, com o corte das comunicações, de eletricidade e de água. Uma testemunha que conseguiu deixar a cidade afirmou ao grupo ativista Comitê de Coordenação Local da Síria que o número de mártires ;poderia estar entre 300 e 400; no local. Segundo o morador, pessoas ;estão sangrando até a morte;, porque os hospitais não têm condições de realizar transfusões ou cirurgias, uma vez que a energia foi interrompida. ;Os bombardeios continuam dia e noite. Você consegue imaginar o que é isso? Este é o presente de Bashar para nós no Ramadã;, afirmou ele, sob a condição de anonimato.
Em diversos fóruns na internet, ativistas relataram que as manifestações irromperam na província tribal de Deur Al-Zor, na planície de Hauran, em Homs, na cidade costeira de Jableh e em diversos distritos da capital, Damasco. O presidente da Liga Síria de Direitos Humanos, Abdel Karim Rihaui, afirmou à France-Presse que forças de segurança teriam matado pelo menos quatro manifestantes próximo a Damasco.
Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, mais de 2 mil pessoas morreram desde o início da revolta contra o regime.
Opositores culpam as forças de segurança pelas mortes, mas o regime atribui as baixas à ação de ;grupos armados;. Hillary Clinton citou o mesmo número ao condenar a violência. O maior poeta vivo de língua árabe moderna, o sírio Adonis, fez um apelo à renúncia de Al-Assad e pediu que a oposição adote uma ideologia estritamente laica, em entrevista publicada pelo jornal Al-Raã, do Kuwait. ;O mínimo que ele (Al-Assad) poderia fazer é sair;, declarou.
Deterioração
Especialistas em direitos humanos da ONU advertiram ontem que a dimensão e a gravidade da repressão no país continuam a piorar e reiteraram o pedido pelo fim imediato das estratégias adotadas pelo governo.
;O uso indiscriminado de artilharia pesada contra os manifestantes não pode ser justificado. Nenhum Estado está autorizado a usar força militar contra uma população civil desarmada, independentemente da situação;, afirmou o relator especial da ONU sobre Execuções Extrajudiciais, Sumárias ou Arbitrárias, Heyns Christof.
Para Barah Mikail, analista de Oriente Médio e norte da África da Fundação para as Relações Internacionais e o Diálogo Exterior (em Fride, Espanha), mais mortes devem ocorrer na Síria. ;O regime não vai desistir. Muito menos os oponentes;, relatou, em entrevista ao Correio. Segundo ele, a vantagem de Al-Assad está no fato de que os distúrbios se concentram em cidades como Homs, Hama e Deir-ez-Zor e estão longe de atingir toda a Síria. Ele cita ainda o fato de outros países não desejarem se envolver em uma intervenção militar neste momento.