Agência France-Presse
postado em 08/08/2011 18:10
LONDRES - Em estado de choque, Londres viveu, nesta segunda-feira (8/8), o terceiro dia consecutivo de atos de violência e saques, enquanto uma investigação ampla tentava, ainda, determinar as responsabilidades nestes fatos inéditos em mais de 20 anos, que chegaram a Birmingham (centro).A ameaça de violência, que até agora se concentrava na capital, superou seus limites. A polícia noticiou episódios de violência em Birmingham, onde as forças de segurança enfrentaram um grande número de jovens depois que eles quebraram várias vitrines.
No total, 215 pessoas - entre as quais um menino de 11 anos - foram detidas desde o início dos distúrbios, declarou esta segunda-feira a ministra britânica do Interior, que teve que encurtar as férias. No distrito pobre de Hackney, a poucos quilômetros de Stratford (leste), onde fica o estádio que sediará os Jogos Olímpicos de Londres-2012, dezenas de jovens se concentraram na rua principal, atacaram várias lojas, saquearam um caminhão e queimaram latas de lixo.
Vários carros foram incendiados antes da chegada da polícia, que dispersou os jovens, constatou um jornalista da AFP no local.
A violência no bairro começou quando a polícia tentou realizar uma operação de detenção e revista, noticiou a BBC, mas um porta-voz policial não pôde confirmar esta informação até o momento. No bairro de Peckham (sul), outra área pobre da capital, imagens da televisão mostraram um estabelecimento comercial em chamas, que os bombeiros tentavam controlar porque o fogo ameaçava residências vizinhas. Não longe dali, outro grupo de jovens tentou incendiar um ônibus de dois andares.
Os atos de violência iniciados no sábado em Tottenham se espalharam por vários bairros da capital durante o fim de semana. Os distritos mais afetados - Tottenham, Brixton, no sul de Londres, e agora Hackney - são regiões multiétnicas que têm altas taxas de desemprego.
Na madrugada de domingo para segunda, pelo menos nove membros das forças de ordem ficaram feridos. Foram 35 durante o fim de semana, segundo informações da polícia, que se diz "chocada com este incrível nível de violência dirigida contra ela".
Na noite anterior, pequenos grupos de jovens atacaram as forças de ordem em outros bairros, danificando vários de seus veículos, destruindo vitrines e saqueando lojas. Trata-se de "atos criminosos inspirados", segundo os serviços de segurança, naqueles registrados no sábado no bairro multiétnico e pobre de Tottenham (norte).
Em Walthamstow, Enfield, Islington (norte), Brixton (sul) e inclusive em Oxford Circus, em pleno coração da Londres turística, as mesmas cenas se reproduziram. Afetada pelos acontecimentos da véspera e pelas duras críticas feitas à lentidão de sua reação, a polícia, reforçada, realizou 153 novas detenções, após as 62 interpelações de domingo.
As agitações eclodiram no rastro de uma manifestação para reivindicar "justiça" pela morte, na quinta-feira, de Mark Duggan, durante uma operação das forças de ordem contra a criminalidade no âmbito da comunidade negra da capital inglesa. "Tem relação com aquilo que ocorreu em Tottenham. Mas isto parece ser mais uma desculpa", criticou Williams Falade, de 28 anos, encarregado de um clube de ginástica em Brixton.
Um sentimento compartilhado pelo número dois do governo, Nick Clegg, que visitou Tottenham esta segunda-feira e condenou a "onda de violência gratuita", segundo ele que não tem "absolutamente nada a ver com a morte de Mark Duggan", um pai de família.
Na noite de sábado, em Tottenham, um bairro que já tinha sido palco de distúrbios em 1985, imóveis foram queimados, carros da polícia e um ônibus, incendiados, 29 pessoas ficaram feridas, fazendo daquela noite uma das piores na capital britânica em mais de 20 anos.
Uma comissão de controle independente abriu um inquérito sobre as circunstâncias da morte de Mark Duggan, enquanto que algumas informações divulgadas pela imprensa dão a entender que as forças de ordem abriram fogo sem ter sido atacadas. Os resultados dos especialistas balísticos são aguardados para a terça-feira.
Embora as fotos de edifícios em chamas tenham dominado as primeiras páginas de todos os jornais britânicos esta segunda-feira, muitos evitaram fazer interpretações apressadas.
Em Tottenham, os moradores ainda têm dúvidas sobre as causas de tanta violência. "Não podemos nos contentar em dizer que estes eventos se devem unicamente a esta morte ou a criminosos", afirmou Osagyefo Tongogara, morador de longa data deste bairro. "Eu digo que esta é uma rebelião. As pessoas estão frustradas e furiosas", emendou.