Agência France-Presse
postado em 10/08/2011 18:24
SANTIAGO - O governo chileno anunciou esta quarta-feira (10/8) que não apresentará uma nova proposta a favor de uma melhor educação pública, como exigem estudantes e professores para por um fim aos protestos, e ofereceu um plano alternativo de aulas àqueles que não quiserem perder o ano letivo. "Já temos a proposta e esperamos que eles (os estudantes) possam se sentar com as autoridades, os parlamentares, para poder ver como levamos adiante e complementamos a proposta", afirmou o porta-voz do executivo, Andrés Chadwick.Estudantes e professores rejeitaram a posição do governo.
[SAIBAMAIS]Os estudantes, que na terça-feira protagonizaram uma nova passeata, haviam dado um prazo ao governo para responder à sua reivindicação na tarde desta terça-feira, que inclui o estabelecimento de um sistema de educação gratuito e de qualidade para todos os que não possam pagá-la.
"É uma demonstração a mais da intransigência com a qual insiste em agir este governo, que não se aplica só aos estudantes, mas se reflete majoritariamente no Chile", respondeu o vice-presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile, Francisco Figueroa.
Chadwick propôs a criação de uma mesa de trabalho para negociar duas propostas que o executivo apresentou nas semanas anteriores aos estudantes, que as qualificaram de "insuficientes": primeiro, um Grande Acordo Nacional de Educação, que prometia mais recursos, e em seguida um programa de 21 pontos.
Se os jovens se recusarem a dialogar com base nestas propostas, "vamos levar os projetos ao Congresso para ver se lá podemos avançar nas melhores soluções", acrescentou.
"É difícil estabelecer uma mesa de diálogo e trabalho. Esta estratégia ficou no passado. Em 2006 (quando os estudantes do ensino médio protagonizaram uma greve com demandas similares), nossos companheiros o fizeram e não deu em nada", explicou o porta-voz dos estudantes da região metropolitana de Santiago, Rodrigo Rivera. Paralelamente, o governo lançou um plano para evitar que os estudantes do nível médio percam o ano de aulas devido às manifestações e à ocupação de 206 das 3.057 escolas da região metropolitana.
O sistema educacional de ensino fundamental e médio do Chile exige que os estudantes tenham frequência de 85% nas aulas durante o curso. Do contrário, perdem o ano.
A proposta, chamada "Salvemos o ano escolar", permitirá completar o programa de aulas, compartilhando salas de colégios que não foram ocupados pelos estudantes em paralição, retomando aulas em locais alternativos como ginásios e que as crianças estudem e façam as provas em casa.
Dois meses atrás, diante do panorama de paralisação nos colégios bloqueados pelos estudantes, o Executivo antecipou as férias de inverno (austral) nos centros escolares ocupados, mas as invasões foram além das duas semanas de descanso estabelecidas.
Muitos pais têm acompanhado os filhos nas manifestações e apóiam os protestos dos estudantes. "Se há alunos e pais que são (defensores) da ideia (de) que seus filhos devem perder o ano escolar como a melhor forma de fazer valer sua voz, nós não podemos controlar, nem tornar possível o que eles já têm determinado", alertou o ministro da Educação, Felipe Bulnes.
Durante mais de dois meses de mobilizações, os estudantes protagonizaram uma série de passeatas maciças, que reuniram dezenas de milhares de pessoas e terminaram em violentos confrontos com a polícia.
A última manifestação, realizada esta terça-feira em Santiago, reuniu mais de 70.000 pessoas, segundo a polícia, e 150.000 de acordo com os estudantes, e acabou em distúrbios que terminaram com 396 presos e 78 feridos.