Renata Tranches
postado em 11/08/2011 09:05
Depois de ajudar a destravar o impasse sobre a Síria no Conselho de Segurança das Nações Unidas, na semana passada, o Brasil conseguiu ontem, ao lado de Índia e África do Sul, um primeiro avanço diplomático na solução do conflito que se arrasta no país há quase cinco meses. Delegados das três nações, que compõem o Fórum Ibas, reuniram-se em Damasco com o presidente Bashar Al-Assad e reforçaram a declaração pela qual o conselho condenou a violência na Síria. Em resposta, o líder reconheceu que as forças de governo cometeram ;alguns erros;, segundo nota divulgada pelo Ibas após o encontro. A repressão aos protestos causou mais mortes ao longo do dia, e o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse ao Correio que a expectativa positiva ;tem de ser comprovada pelos fatos;.
Na semana passada, os embaixadores do Brasil e do Reino Unido na ONU foram responsáveis por acertar os últimos detalhes da declaração aprovada pelo Conselho de Segurança. Para chegar a um consenso e evitar que o texto fosse vetado por China e Rússia ; que bloqueiam uma resolução mais dura ou a imposição de sanções ;, foi fundamental dirigir o chamado pelo fim da violência a ;todas as partes;, sem singularizar o regime. Para o chanceler brasileiro, ao negociar diretamente com Assad, o Brasil ;assumiu sua responsabilidade; como membro não permanente do Conselho de Segurança, assim como Índia e África do Sul.
A visita do Ibas a Damasco, por indicação do organismo, tinha, segundo Patriota, o objetivo de reforçar a mensagem da declaração, de ;pôr fim à violência e dar curso às reformas políticas dentro do mais breve prazo possível;. ;Estamos fortalecendo também as conversas mantidas no dia anterior pelo chanceler da Turquia, com quem mantive contato por telefone;, afirmou o chanceler.
Na opinião do embaixador Marcos Azambuja, vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e secretário-geral do Itamaraty no governo Collor, o fato de a delegação do Ibas ter sido recebida pelo próprio Assad mostra prestígio. ;O momento foi bom e o Brasil sai desse contato prestigiado;, afirmou ao Correio. ;Somos agora um país que tem legitimidade para falar em Oriente Médio, e não há nenhum elemento de voluntarismo, de irresponsabilidade.;
Para Azambuja, o episódio atesta o amadurecimento na diplomacia brasileira. Ele compara o encontro em Damasco com o episódio do ano passado em que Brasil e Turquia fecharam um acordo para que o Irã enriquecesse urânio em território turco. Na ocasião, segundo o diplomata, o país cometeu o erro de ;achar que tinha mais prestígio do que dispunha de fato;. ;(Agora, o Brasil está agindo como e onde deve, e da maneira correta. Dou muito boa nota ao comportamento brasileiro.;
Três categorias
Além de reconhecer pela primeira vez que as forças de segurança ;cometeram erros;, o presidente sírio garantiu que ;reformas políticas estão sendo concluídas com o povo sírio;, segundo afirma a nota do Ibas. O regime de Damasco, que até agora atribuía os distúrbios à ação de ;grupos armados; e ;manipulados pelo Ocidente;, diferenciou a oposição em três categorias: setores economicamente desfavorecidos; intelectuais e acadêmicos; e grupos armados.
Enquanto Brasil e aliados tentam esgotar as possibilidades de diálogo, os Estados Unidos voltaram a pressionar pela saída de Assad do poder e criticaram veladamente a posição dos que se opõem à imposição de sanções pela ONU. ;Uma transição democrática seria o melhor para a Síria, a região e o mundo, e pretendemos ajudar o povo sírio a conseguir a dignidade e a liberdade que pediu, e pela qual tanta gente morreu;, declarou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.
Washington tem sido um dos mais fervorosos partidários de medidas mais firmes contra o regime sírio. Segundo a embaixadora norte-americana perante a ONU, Susan Rice, ;os EUA e os europeus seguem discutindo uma resolução, e apoiamos fortemente essa iniciativa, mas outros países não querem fazer o mesmo;, declarou Rice, em referência a China, Rússia, Brasil, Índia e África do Sul.
Washington aperta
Em mais uma iniciativa para aumentar a pressão sobre Bashar Al-Assad, os Estados Unidos impuseram sanções unilaterais contra o maior banco comercial controlado pelo Estado sírio e contra a principal operadora de telefonia móvel do país. As medidas, que punem o Banco Comercial da da Síria, sua filial no Líbano e a telefônica Syriatel, são as mais recentes tomadas por Washington em resposta à repressão dos protestos por democracia. A medida congela ativos das empresas e proíbe entidades norte-americanas de fazer negócios com elas.