Renata Tranches
postado em 13/08/2011 08:00
Principais ferramentas de comunicação para os incitadores dos distúrbios que assolaram Londres esta semana, as redes sociais preocupam-se agora em atender ao pedido do governo para ajudar a identificar os autores da baderna e impedir-lhes acesso a elas. A medida é polêmica e acendeu discussões. Na próxima semana, executivos do microblogue Twitter, do site de relacionamentos Facebook e da empresa Research In Motion ; fabricante do BlackBerry ; vão à mesa de conversações com a ministra do Interior, Theresa May, para discutir se a providência é viável e como poderá será tomada. Enquanto isso, o número de vítimas dos motins subiu ontem para cinco, com a morte de um homem de 68 anos.Em um discurso enérgico no Parlamento, na quinta-feira, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou a decisão em meio a outras que serão tomadas para tentar conter os distúrbios. O premiê não esclareceu, porém, como pretende colocá-la em prática. Para Luiz Improta, analista em segurança da empresa Arcon, é quase impossível que o governo decida realmente cercear o acesso de usuários específicos às redes sociais. Segundo ele, além de complicada ; já que é impossível saber quando o usuário ativa uma nova conta ;, esta é uma atitude contraditória para um ;país dado à democracia e um governo com tradição pela liberdade de expressão;.
Cameron alegou aos parlamentares que o livre curso das informações pode ser usado para o bem, mas também para o mal. ;Quando as pessoas usam as mídias sociais para a violência, precisamos detê-las;, declarou. ;Estamos trabalhando com a polícia, os serviços de inteligência e a indústria para compreender em que circunstâncias seria correto bloquear o acesso destas pessoas à comunicação por meio desses sites e serviços, tão logo saibamos que elas estão incitando a violência, a desordem e a criminalidade.;
Em nota, o Facebook informou que ;espera pelo encontro com a ministra do Interior para explicar as medidas que deverão ser tomadas; e para garantir que o site é uma ;plataforma segura e positiva para o Reino Unido, em tempos desafiadores;. A Research in Motion já havia se comprometido a colaborar nas investigações. Por esse motivo, na terça-feira, o site da empresa foi invadido pelo grupo de hackers Teampoison, que deixou uma mensagem na qual pedia à companhia que não ajude a identificar suspeitos. ;Se o fizer, pessoas inocentes, que tenham um Blackberry e estejam no local errado e na hora errada, serão falsamente acusadas de participar dos motins;, alertam os hackers.
Protesto
Ao mesmo tempo em que Cameron acusava a internet e os celulares de serem usados para coordenar a violência, ativistas de liberdade de expressão protestavam dizendo que a decisão lembrava o bloqueio às comunicações digitais feito por governos árabes para conter protestos. Em entrevista ao jornal The New York Times, Padraig Reidy, editor do Index on Censorship, afirmou que decisões como estas surgem de tempos em tempos. ;Mais recentemente, vimos isso ocorrer no Egito;, afirmou, acrescentando que a polícia deve ter acesso a mensagens em investigações específicas, mas sem a permissão para monitorar ou suspender comunicações. Já o grupo Anonymous foi mais duro e prometeu ;retaliar; com distúrbios de rua, caso Cameron avance com o bloqueio. Uma mensagem no Twitter atribuída aos ciberativistas alertava: ;Se Cameron desligar as redes sociais, vai ter repercussões severas. Aguardem-nos;.
Paralelamente, o governo faz uso de outra mídia digital para buscar suspeitos de vandalismo e de saques, usando suas fotos em um telão instalado em uma caminhonete que percorre Londres. Desde quinta-feira, cerca de 50 fotografias de suspeitos captadas pelas câmeras de vigilância são exibidas das 7 de manhã às 7 da noite. Mais de 1,5 mil pessoas já foram presas. Na noite de quinta-feira, Richard Mannington Bowes, de 68 anos, morreu no hospital, três dias após ser encontrado inconsciente em Ealing, bairro da periferia oeste de Londres.
Premiê quer expulsar vândalos de moradias
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, afirmou que os envolvidos nos distúrbios devem ser expulsos de suas moradias populares. ;As pessoas que saqueiam suas próprias comunidades não deverão mais ser autorizadas a viver em moradias sociais;, afirmou o premiê, à emissora BBC. ;Se você vive em uma moradia popular e aproveita-se de uma casa de preço reduzido, isso deveria lhe dar responsabilidades;, acrescentou. ;Durante muito tempo, adotamos uma atitude muito fraca em relação às pessoas que saqueiam suas comunidades. Se você fizer isso, deverá perder seus direitos a uma moradia subsidiada;, completou Cameron.