Agência France-Presse
postado em 13/08/2011 12:35
Os distúrbios na Grã-Bretanha são "criminalidade pura e dura", segundo o primeiro-ministro David Cameron, mas a oposição e alguns sociólogos negam-se a se contentar com explicações "simplistas" e afirmam que, por trás, há causas econômicas e sociais.
Antes da explosão da violência sem precedentes, a resposta do Governo liberal-conservador foi triplicar a presença policial em Londres.
As imagens "irritantes" de jovens encapuzados quebrando lojas para levar televisões de tela plana ou tênis esportivos demonstram que esta parte da sociedade está "doente', considerou o primeiro-ministro conservador.
No entanto, Cameron negou-se a estabelecer uma relação entre os distúrbios e a pobreza, ou a ver nesta explosão de violência a expressão de um descontentamento político.
"Não se trata de política, nem de uma manifestação, mas sim de roubos", disse, taxativo. Uma opinião compartilhada por 42% dos britânicos, segundo uma pesquisa divulgada na quinta-feira.
Os distúrbios, que já deixaram cinco mortos, começaram com a morte de Mark Duggan, um homem de 29 abatido pela polícia no bairro multiétnico de Tottenham, em Londres. No entanto, os líderes destes distúrbios, que se espalharam pela capital e por outras cidades inglesas, nunca fizeram referência ao jovem.
Por enquanto, a oposição evitou atribuir a responsabilidade da violência aos cortes orçamentários decididos no ano passado pelo Governo de Cameron.
"Penso que o que temos que fazer é evitar as soluções simplistas", disse o líder do Partido Trabalhista, Ed Miliband.
"Penso que são atos criminosos individuais, e não há desculpa nem justificativa para isso (...), mas sei que precisamos ir além disso", disse à BBC.
"É cultural ou deve-se à pobreza e à falta de oportunidades? Provavelmente, as duas coisas", acrescentou Miliband.
Miliband também vinculou os saques à crise financeira e ao escândalo das escutas ilegais no grupo de imprensa de Rupert Murdoch, que, segundo ele, ilustram um clima de irresponsabilidade e de egoísmo, e convidou a sociedade a fazer um exame de consciência.
Para Tony Travers, sociólogo da London School of Economics, os saques "não são uma expressão política".
"Pode estar vinculado com a pobreza ou com as condições de vida, mas também com a maneira pela qual alguns foram educados. É preciso investigar profundamente para saber o que ocorreu", acrescenta.
Gus John, professor da Universidade de Londres, vai mais longe e acredita que os saques expõem a raiva acumulada contra a polícia e seus controles e registros, que, segundo ele, centram-se excessivamente nos jovens negros.
"Em grande medida, penso que é uma explosão de raiva contida contra a polícia, mas também a expressão de uma absoluta frustração em relação a sua situação, porque estas pessoas não veem um futuro", afirma.