Agência France-Presse
postado em 17/08/2011 13:45
Paris - "Coco Chanel era uma antissemita confirmada", disse nesta quarta-feira (17/8), à AFP, o jornalista Hal Vaughan, autor de uma biografia da estilista que denuncia o comprometimento da mais famosa criadora mundial de moda com o regime nazista, do qual ela teria sido agente, durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1995, a revista francesa L;Express, depois, em 2008, a alemã Der Spiegel haviam levantado dúvidas sobre o passado da francesa célebre citando a colaboração dela com o serviço secreto alemão em 1943, para tentar negociar uma paz separada com Winston Churchill.Autor de "Sleeping with the enemy, Coco Chanel;s secret war" (Dormindo com o inimigo, a guerra secreta de Coco Chanel, numa tradução livre), Hal Vaughan explicou que seu livro é fruto de três anos e meio de pesquisas nos arquivos americanos, franceses, alemães, britânicos, italianos e poloneses. Também consultou 225 obras de referência relacionadas a Coco Chanel. "Descobri doze citações dos propósitos antissemitas de Coco Chanel, também uma anticomunista convicta que se vendeu aos alemães porque acreditava que Hitler fosse derrotar Stalin", disse o jornalista americano.
O grupo Chanel, controlado pela família Wertheimer, desmentiu formalmente na terça-feira que Gabrielle Chanel fosse antissemita. "Nunca a ouvi falar qualquer coisa que me fizesse pensar em antissemitismo, mesmo porque não teria suportado", afirmou Edmonde Charles-Roux, autor de uma biografia sobre Gabrielle Chanel datada de 1974.
Autor de dois livros sobre a Segunda Guerra Mundial, Hal Vaughan, 84 anos, contou que descobriu num documento da polícia francesa, datando de 1946, que a célebre estilista era agente da F-7124 de Abwehr, serviço de informação militar alemão, instalado durante a Ocupação no hotel Lutetia de Paris (VI ;arrondissement;, circunscrição administrativa).
"Não pude acreditar em meus próprios olhos quando tive em mãos esse documento manuscrito, de 15 páginas, com o título %2bGabrielle Chanel, chamada Coco%2b" citando, inclusive o código da então agente "Westminster", tirado do nome de seu amante durante seis anos, o duque de Westminster. "Coco Chanel tenha sido, talvez, manipulada pelo amante alemão, mas era uma oportunista", adianta Hal Vaughan. Segundo seu livro, Coco Chanel, apaixonada por um oficial alemão, o barão Hans Gunther von Dincklage, foi recrutada em 1940 como agente secreto do regime nazista.
Hal Vaughan cita também um documento do MI6, o serviço de informação britânico, que relata a confissão de um importante agente alemão que desertou em 1943, em Madri. No documento de 103 páginas, três são consagradas a Coco Chanel e a seu outro amante von Dincklage, disse "Spatz", confirmando que Coco Chanel era mesmo uma espiã da Alemanha. Em documentos da Resistência francesa, Hal Vaughan disse ter também descoberto que o nome de Coco Chanel figurava com a menção "condenada à morte", assim como o poeta Jean Cocteau e o coreógrafo Serge Lifar.
Entre as revelações do livro está a missão que realizou na Espanha, em troca da libertação de um sobrinho detido e sua relação com líderes do nazismo, como Hermann Goering e Joseph Goebbels, entre outros. Hal Vaughan descreve em detalhes a relação de Chanel com o barão Hans Gunther von Dincklage, um oficial alemão, mencionada em outras biografias da estilista, mas cuja verdadeira influência é apresentada pela primeira vez. "Dincklage é revelado aqui como um mestre da espionagem nazista e um agente da inteligência militar alemão que tinha a seu dispor uma rede de espiões, no Mediterrâneo e em Paris, que reportava diretamente ao ministro de propaganda nazista Joseph Goebbels, considerado a mão direita de Hitler", diz o comunicado da editora.
Coco Chanel (1883-1971) nasceu em 19 de agosto de 1883 em Saumur (oeste da França). Tinha 12 anos quando a mãe morreu e foi abandonada pelo pai junto a quatro irmãos. Gabrielle Chanel - seu verdadeiro nome - viveu num orfanato e, já adulta, trabalhou numa confecção até conhecer um rico herdeiro, Etienne Balsan.
Um empresário inglês, Boy Chapel, considerado o grande amor de sua vida, ajudou-a a abrir seu primeiro estabelecimento, dedicado à fabricação de chapéus. Seguiu-se a alta-costura, com a inauguração da casa de número 31 da rua Cambon em 1919; pouco depois, lançaria o primeiro perfume, o N; 5. Depois da Segunda Guerra Mundial, exilou-se na Suíça até 1953, quando criou uma coleção recebida friamente em Paris, mas que conquistou o mundo. Chanel morreu em 10 de janeiro de 1971 num quarto do Hotel Ritz na capital francesa e foi enterrada em Lausanne (Suíça).