Agência France-Presse
postado em 22/08/2011 00:02
Trípoli - Os rebeldes líbios entraram no domingo à noite em Trípoli e chegaram ao coração da capital, onde foram travados intensos combates, enquanto a Otan anunciava o fim iminente do regime de Muamar Kadhafi, mas um dos líderes da insurgência pediu cautela quanto aos focos de resistência de forças leais ao ditador.Mahmud Jibril, um dos principais membros do Conselho Nacional de Transição (CNT), pediu aos combatentes rebeldes que fiquem alerta para "bolsões" de resistência pró-Kadhafi na capital.
"Fiquem alerta. Bolsões de resistência (das forças pró-Kadhafi) ainda são localizados dentro e no entorno de Trípoli (...)", disse Jibril.
"Devem ser prudentes. O combate não acabou. Mas, se Deus quiser, em algumas horas nossa vitória será completa", afirmou ele, que exerce o cargo de primeiro-ministro à frente do Executivo rebelde.
Jibril também pediu que seus combatentes não se vinguem dos partidários do líder líbio.
"Hoje, que comemoramos a vitória, apelo para a sua consciência e para a sua responsabilidade: não se vinguem, não saqueiem, não culpem os estrangeiros e respeitem os prisioneiros", declarou Jibril, em um discurso oficial à televisão rebelde Libya al-Ahrar.
"Estes desafios são uma oportunidade única neste período de transição, de dar vida a todos os direitos pelos quais lutamos", considerou Jibril.
Em uma tentativa de manter o comando, o coronel Kadhafi pediu em uma mensagem sonora divulgada pela televisão líbia que seus partidários "limpem" a capital dos rebeldes que haviam tomado o controle de vários bairros de Trípoli.
Os tripolitanos "devem sair agora para limpar a capital", declarou o coronel Kadhafi, afirmando que "não há lugar para agentes do colonialismo em Trípoli e na Líbia".
"Voltem para de onde vocês vieram", disse aos rebeldes o líder líbio.
Pouco antes, o porta-voz do regime havia afirmado que 1.300 pessoas morreram nas últimas 24 horas em Trípoli, classificando os combates de "verdadeira tragédia".
"Em 24 horas, 1.300 pessoas foram mortas em Trípoli", disse Mussa Ibrahim, durante uma entrevista coletiva à imprensa, indicando que "seu regime permanece forte e que milhares de voluntários e soldados estão preparados para lutar".
Apesar do aparente êxito dos rebeldes, o porta-voz do regime, Mussa Ibrahim, afirmou durante uma entrevista coletiva à imprensa que "seu regime permanece forte e que milhares de voluntários e soldados estão preparados para lutar".
"Temos um líder que vai nos conduzir à paz (...) e vocês não podem privar os líbios dela", concluiu Ibrahim.
Enquanto o regime se esforçava para aparentar estar no controle da situação, os clientes do serviço de telefonia móvel da operadora Libyana recebiam uma mensagem do CNT felicitando o "povo líbio pela queda de Muamar Kadhafi". Segundo moradores de alguns bairros da capital, o serviço de internet foi restabelecido, cerca de seis meses depois de ter sido cortado durante o início das manifestações contra o governo.
Na Haia, o procurador do Tribunal Penal Internacional, Luis Moreno-Ocampo, confirmou a prisão de Seif al-Islam, um dos filhos do coronel Muamar Kadhafi, que tem contra si um mandado de prisão do TPI por crimes contra a Humanidade cometidos em seu país.
"Recebi informações confidenciais segundo as quais ele foi preso", declarou Moreno-Ocampo à AFP.
"Esperamos que ele possa estar em breve na Haia" para ser julgado, acrescentou o procurador do TPI, indicando que "deve entrar em contato com o governo de transição" líbio durante o dia.
Durante a noite de domingo para segunda-feira, os rebeldes, que lançaram uma ofensiva no sábado à noite, chegaram à Praça Verde, local simbólico onde os partidários do regime costumavam a se reunir para manifestar sua fidelidade ao líder quando começaram os protestos em meados de fevereiro.
A rede de televisão britânica, Sky News, divulgou imagens de uma multidão exultante dançando aos gritos de "Alá Akbar" (Deus é grande) e agitando bandeiras líbias do governo derrubado por Kadhafi em 1969, com as cores vermelha, preta e verde, que os rebeldes adotaram.
Em Benghazi, dezenas de milhares de moradores saíram às ruas da "capital" dos rebeldes no leste da Líbia para comemorar o iminente fim do regime de Kadhafi.
Motoristas buzinavam, tiros de armas automáticas eram ouvidos e gritos de vitória explodiram em toda a cidade após o anúncio feito pelas redes de televisão da chegada dos rebeldes ao coração da capital do país.
A Otan considerou neste domingo que o fim do regime está próximo.
"O regime de Kadhafi desmorona claramente", declarou em um comunicado apresentado na madrugada desta segunda-feira o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen.
Em Washington, o presidente americano, Barack Obama, disse nesta segunda que o regime de "punho de ferro" de Muamar Kadhafi chegou ao seu "momento decisivo" e que o "tirano" líbio deve partir agora para evitar um banho de sangue.
Em uma primeira reação à situação atual na Líbia, Obama também pediu em um comunicado que os rebeldes líbios, que entraram em Trípoli no domingo, respeitem os Direitos Humanos, preservem as instituições do Estado e sigam para a democracia.
"Esta noite o ímpeto contra o regime de Kadhafi chegou a um ponto decisivo. Trípoli escapa do punho do tirano", afirma Obama em um comunicado divulgado a partir do balneário Martha;s Vineyard (nordeste), onde passa as férias.
"O regime de Kadhafi apresenta sinais de colapso. O povo da Líbia prova que a busca universal pela dignidade e pela liberdade é muito mais forte do que o punho de ferro de um ditador".
Obama indicou que a melhor forma de se pôr um fim ao derramamento de sangue na Líbia é simples: "Muamar Kadhafi e seu regime precisam reconhecer a realidade de que já não controlam a Líbia. Precisam deixar o poder de uma vez por todas".