Em meio à luta entre os rebeldes e as forças do governo de Muamar Kadafi, a primeira delegação do Conselho Nacional de Transição (CNT) chegou a Trípoli ontem e anunciou a transferência do seu Comitê Executivo ; o equivalente ao governo do movimento ; de Benghazi (leste) para a capital. ;Declaro o início do trabalho do Comitê Executivo em Trípoli;, disse Ali Tahuni, vice-presidente do CNT. ;Longa vida a uma Líbia democrática e constitucional, e glória aos mártires.; Ele afirmou que o presidente, Mustafah Abdel Jalil, se reunirá com os membros do comitê ;o mais rápido possível, assim que a situação de segurança permitir;. Com a medida, o CNT visa preencher o vácuo de autoridade, que agravou a violência. Combates entre a oposição e tropas leais ao ditador se intensificaram e levaram caos à cidade de 1,6 milhão de habitantes.
O grupo rebelde, que deve comandar a mudança no poder, precisará organizar um país em conflito há seis meses e formar um novo arcabouço de Estado. Ontem, os opositores chegaram a anunciar que Kadafi estava cercado em uma passagem subterrânea de seu complexo, acompanhado dos filhos. Até as 22h, não houve confirmação sobre a denúncia. O ditador voltou a enviar uma mensagem de áudio, na qual conclamava a população ao combate.
Metade da cúpula do CNT chegou ontem a Trípoli e manteve uma reunião para decidir os próximos passos rumo à estabilidade. O controle de grande parte da capital é feito por homens armados com metralhadoras. Em alguns bairros, ainda há tiroteios. No entanto, não existe uma organização durante os combates ; seja na prisão dos inimigos ou no recolhimento dos corpos. Os hospitais operam lotados, e o acesso da população aos alimentos é restrito. O restante do país continua dividido.
Os opositores conseguiram conquistar a estratégica cidade de Al-Wig, no extremo sul da Líbia, e tentam se aproximar de Sirte, a terra natal do ditador. Abdel Jalil pediu que os simpatizantes de Kadafi unam-se à revolução. ;Peço ao nosso povo nas zonas que ainda não foram liberadas que se junte à revolução;, disse.
A disputa se concentrou ontem no bairro de Abu Salim, perto do antigo quartel-general de Kadafi, onde os rebeldes creem que o ditador esteja escondido. O combate foi intenso na tarde de ontem, e um hotel onde estavam hospedados diversos jornalistas serviu de escudo para homens armados. Os opositores avançaram na região, invadiram uma prisão e libertaram todos os presos do local. O complexo de Bab Al-Aziziya foi revirado mais uma vez. Os rebeldes encontraram túneis subterrâneos que teriam servido de abrigo a Kadafi. Os insurgentes chegaram a anunciar que ele encontrava-se encurralado e que o fim estaria próximo. Pela captura do líder líbio, vivo ou morto, existe uma recompensa de US$ 1,7 milhão.
Mensagem
Kadafi afirmou que ainda está na Líbia. Na terceira mensagem de áudio divulgada desde a invasão dos rebeldes a Trípoli, ele pediu mais uma vez que o povo lute. ;É preciso resistir a estes ratos inimigos, que serão derrotados pela luta armada. Saiam de suas casas, libertem Trípoli. A Líbia é para o povo líbio e não para os agentes, não para o imperialismo, não para a França, não para o (Nicolas) Sarkozy (presidente francês), não para a Itália;, disse o mandatário. O ex-companheiro do ditador durante a revolução de 1969 e antigo número dois do regime, Abdesalem Jalud, afirmou em Roma, onde está refugiado, que o coronel pode estar na capital ou no deserto. ;Há apenas quatro pessoas ao seu redor e duas possibilidades: ou ele se esconde na parte meridional de Trípoli ou saiu há algum tempo;, disse.
A caçada ao ditador teria o apoio da coalizão internacional comandada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), segundo informações do jornal americano The New York Times. Tanto os Estados Unidos quanto a aliança atlântica negaram qualquer ajuda do tipo. ;Não posso falar por outras autoridades ou se outras nações amigas estão fazendo alguma coisa a respeito, nas nem os EUA, nem a Otan fazem parte disso;, afirmou o porta-voz do Pentágono, coronel Dave Lapan. O Reino Unido admitiu ter enviado oficiais de inteligência para trabalhar como orientadores dos rebeldes nas buscas e para coordenar as ações em Misrata e, possivelmente, em Sirte.
;Leezza, eu a amo muito;
Em 2007, o ditador líbio, Muamar Kadafi, chegou a rasgar elogios à então secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice. ;Eu apoio minha querida mulher africana. Eu a admiro e tenho muito orgulho do modo como ela se inclina para trás e dá ordens aos líderes árabes;, afirmou, na ocasião. ;Leezza, Leezza, Leezza; Eu a amo muito;, acrescentou. A admiração por Condie ficou ainda mais evidente com a queda do ditador. Na quarta-feira, os rebeldes encontraram, no quartel-general de Kadafi, um álbum com fotos da ex-secretária. No quarto de Al-Saadi, um dos filhos do mandatário, os insurgentes encontraram um DVD de pornografia gay chamado Boys Tracks, entre outros objetos.