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Rebeldes tentam convencer leais a Kadafi a entregar cidade natal do ditador

postado em 28/08/2011 08:00
Já se passaram oito dias desde que Hana recebeu notícias sobre seus avós e tios, em Sirte. O silêncio preocupa esse líbia de 28 anos, que em 2009 trocou a cidade onde ela e o ditador Muamar Kadafi nasceram por West Yorkshire (Reino Unido). ;Os moradores de lá estão sem eletricidade por quase duas semanas. As forças pró-Kadafi instalaram um telão no centro, por meio do qual transmitem notícias. A última coisa que ouvi foi que um dos aliados do ditador disse que ele está bem e que tudo o que ocorre em Trípoli não passa de propaganda;, afirmou ao Correio, pela internet.

Considerada o mais importante bastião do regime, Sirte foi alvo ontem de bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Os aviões da aliança atlântica ocidental destruíram 21 alvos na madrugada, incluindo veículos blindados, depósitos de armas, bunkers e uma plataforma de lançamento de mísseis terra-ar. Os rebeldes do Conselho Nacional de Transição (CNT) acreditam que a conquista da cidade é essencial para impedir que o país se divida.

Por telefone, Guma El-Gamaty, coordenador do CNT no Reino Unido e um dos porta-vozes do movimento opositor, admitiu à reportagem a importância da captura de Sirte. ;É algo simbólico. Trata-se da cidade de Kadafi e de sua tribo;, comentou. Ele acredita que os simpatizantes do ditador não mostrarão resistência. ;Não haverá combate. Nós firmaremos um acordo, eles vão se render e se unirão à revolução;, aposta El-Gamaty. De acordo com Hana, oficiais de Kadafi estariam escondidos em Sirte, apoiados por guerrilheiros fortemente armados. ;Meus familiares estão apavorados. Temem ser massacrados;, relata a estudante líbia.

Trípoli vivia ontem uma espécie de ;tensa tranquilidade;. Alguns moradores foram ao mercado Rachid em busca de alimentos, cada vez mais escassos e caros. Mahmud Shammam, outro porta-voz do CNT, prometeu para hoje óleo diesel suficiente para restabelecer a eletricidade, além de suprimentos de água. ;Nós temos 30 mil toneladas de gasolina. Começaremos a distribuir (o combustível) hoje (ontem);, declarou à emissora britânica BBC. ;Também vamos fornecer gás de cozinha. Trípoli esteve sob controle da ditadura por 42 anos. Não peçam milagres, mas juramos tentar tornar esse período difícil o mais curto possível.;

Os rebeldes garantem ter o domínio do aeroporto internacional, apesar da presença de combatentes leais a Kadafi nas redondezas. Moktar Lakder, comandante da rebelião, disse à agência France-Presse que entre 60 e 80 carros do batalhão de Khamis, um dos filhos do ditador, abandonou durante a noite a região de Qafr ben Girshir, a apenas dois quilômetros do aeroporto. Até o fechamento desta edição, o paradeiro de Muamar Kadafi permanecia um mistério. A agência oficial egípcia Mena informou que um comboio com seis carros blindados passou na manhã de sexta-feira pela cidade de Ghadames, na fronteira entre Líbia e Argélia. Segundo um rebelde, os veículos foram escoltados até o território argelino pelo chefe de uma ;katiba; (brigada). ;Pensamos que transportavam altos dirigentes líbios, possivelmente Kadafi e os filhos.; O governo da Argélia apressou-se em desmentir ;categoricamente; a entrada do comboio. ;Essa informação não tem fundamento;, declarou Amar Belani, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores argelino, à agência APS.

Por sua vez, Mustafa Abdel Jalil, líder do CNT, aconselhou Kadafi a se entregar. ;Pedimos a Muamar Kadhafi e assessores que se rendam, para protegê-los e evitar uma execução sumária;, declarou. El-Gamaty admitiu ao Correio que o chefe do CNT deve viajar a Trípoli nesta semana.


PATRIOTA DIZ QUE O BRASIL VAI ESPERAR
O governo brasileiro não deve reconhecer o Conselho Nacional de Transição (CNT) até a Assembleia Geral da ONU, daqui a 15 dias em Nova York. O chanceler, Antonio Patriota, indicou que a responsabilidade pela validação da nova gestão do país é institucional e deve ser uma ;decorrência do calendário internacional;. Em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, o diplomata deu a entender que alguns países estariam se precipitando ao reconhecer o CNT. ;Não é necessário, nem o Conselho de Segurança jamais recomendou, que a comunidade internacional reconhecesse o governo A ou B.; Como exemplo de uma ocasião para que seja definido o posicionamento da comunidade internacional sobre a situação pós-conflitos na Líbia, Patriota citou a reunião preparatória para a próxima assembleia da ONU, da qual participará a presidente Dilma Rousseff.

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